Costa e o aviso da segunda volta, o lobo mau e o jovem das florestas

António Costa deixou hoje um aviso aos portugueses: “Nestas eleições não há segunda volta”. Uma dramatização do discurso para lembrar que, ao contrário do que acontece nas presidenciais, nas eleições legislativas não há uma nova oportunidade, só daqui a quatro anos. E pediu a maioria absoluta com todas as letras.

“Sabemos bem que uma maioria absoluta é necessária. Mas sabemos bem que maioria a absoluta não é suficiente”, disse o líder do PS, num comício, no Porto, explicando que, ainda assim, é preciso promover o diálogo com os parceiros sociais e “compromissos políticos alargados”. Durante a manhã, Costa já tinha pedido uma maioria absoluta, mas em resposta a perguntas dos jornalistas.

Costa pegou no exemplo de um jogo de futebol para avisar que esta é uma “semana decisiva para convencer todos que cada voto decide e nestas eleições não há segunda volta”. É que este “não é um campeonato que tem primeira e segunda eliminatória, não há segunda mão”, continuou. E portanto só há uma “única oportunidade”. “Ou se ganha agora ou se perde por quatro anos”, concluiu. Uma metáfora que o ex-presidente da Câmara de Vila do Conde, Mário Almeida, já tinha usado pela manhã, em Caxinas.

Os ataques à coligação têm vindo num crescendo e o líder do PS aponta os perigos de nova governação à direita. Avisa que é preciso “muita cautela” porque, em campanha, PSD e CDS “querem parecer a avozinha do Capuchinho Vermelho”. “Mas todos sabemos a história, a avozinha do Capuchinho Vermelho era simplesmente o lobo mau. Eles não são a avozinha, são o lobo mau”, avisou.

As florestas e os submarinos

Mas se o líder do PS guardou para o fim a mais importante mensagem política do dia, o início ficou marcado por um acontecimento inopinado. Um jovem subiu ao palco e interrompeu Costa: “Vamos pôr estes políticos a limpar as florestas. É para isso que servem”. E ainda continuou: “Quero o Dr. António Costa, Passos Coelho e Paulo Portas todos em coligação a limpar as florestas”. A surpresa não demoveu o secretário-geral socialista que aproveitou para mostrar currículo ao lembrar que, quando foi ministro da Administração Interna, fez da limpeza das florestas slogan.

Paulo Portas foi o mais atacado durante o comício com vista para a Torre dos Clérigos, que tinha na audiência, a assistir, o seu pai Nuno Portas. O ex-dirigente socialista António Vitorino questionou “onde estava” Portas quando a austeridade foi agravada e o cabeça-de-lista pelo Porto, Alexandre Quintanilha respondeu, desenterrando os submarinos. “Onde estava o Dr. Paulo Portas? Eu acho que estava num submarino e não ouviu o que se passava no país, estava lá muito fundo e é difícil de comunicar no resto do país”, ironizou.

Coube a António Vitorino fazer o apelo ao voto útil no PS, pedindo “cuidado” a quem procura a “mudança quimérica”, num ataque implícito a PCP e BE. “Todos os que querem mudança têm de concentrar o voto em António Costa e no PS”, apelou. Caso contrário, “estarão confrontados com os rostos de Passos Coelho e Paulo Portas para os próximos quatro anos”.

Quem também marcou presença no comício foi o pai do ministro da Defesa, Fernando Aguiar-Branco, que Costa saudou “calorosamente”. Uma presença que o líder dos socialistas aproveitou para colocar o PS como o partido que agrega várias sensibilidades políticas, muitas descontentes com o “radicalismo ideológico ultra-liberal” em que PSD e CDS se tornaram. ​

sonia.cerdeira@sol.pt