“Ando na rua há dois meses e meio. Não ouço ninguém dizer ‘quero que estes senhores continuem’” diz ao SOL a cabeça de lista por Setúbal, e dirigente do PS, Ana Catarina Mendes, referindo-se ao Governo. Na mesma linha, outro dirigente, Manuel Pizarro, garante que “a sensação na rua é melhor que a das sondagens”.
A clivagem entre a impressão no terreno e os números é também o foco de análise de uma fonte da direção de campanha, que defende que “no terreno o candidato do PS é fortíssimo”, pelo que as “sondagens não mudam o entusiasmo” socialista.
Num segundo nível, porém, os piores fantasmas vêm ao de cima. A permanente ligação feita no discurso da maioria de direita entre António Costa e a governação de José Sócrates pode estar a fazer mossa, admite-se. E ninguém verbaliza um receio mais profundo, relativo ainda a Sócrates: a de que o retrato de um ex-primeiro-ministro a contas com a justiça contamine a imagem do atual candidato do PS.
Gestão de danos ou os ‘males que vêm por bem’
Na quinta-feira, o próprio António Costa veio dar um abanão aos socialistas mais afetados pelas más sondagens com um discurso de confiança na vitória socialista. “Deve ser pelos tracking polls que se vai animando e julga que já só está a uma mentira da vitória eleitoral. Mas Pedro Passos Coelho está muito enganado, está só a dez dias de sofrer a maior derrota eleitoral que a direita terá em Portugal”, disse em campanha na região centro.
Outra arma socialista contra o efeito psicológico negativo de sondagens diárias – que ao longo da semana confirmaram uma tendência prejudicial às pretensões eleitorais de Costa – consiste em pôr em causa a sua representatividade.
“Não acredito que estejam a ser manipuladas, mas as amostras são reduzidas”, diz ao SOL Rocha Andrade, secretário nacional do PS . Olhando para o passado recente das sondagens eleitorais, afirma notar “um padrão: têm falhado quer o vencedor, quer as margens. Os cientistas políticos têm estado a falhar, há um trabalho que ainda precisam de fazer”, conclui.
Negando que haja uma dinâmica negativa na campanha, Rocha Andrade puxa pelo efeito voto útil que o “empate técnico” nas sondagens proporciona: “Aqui há a noção que as coisas não estão ganhas”, pior seria se as sondagens “convidassem à abstenção”..
É com este discurso mais motivador, que serve para dramatizar o apelo ao voto útil na última semana, que os socialistas concluem que “a única conclusão possível é que tudo está em aberto”. E secretamente, anseiam por uma mudança rápida na tendência das sondagens diárias.