O novo inimigo e os alvos de Passos e Portas

Com as sondagens a mostrarem a PàF cada vez mais à frente do PS, a abstenção é agora o principal inimigo da coligação. O apelo ao voto é, por isso, agora cada vez mais recorrente nos discursos. 

Para garantir uma margem que garanta a maioria pedida por Passos Coelho, a mensagem concentra-se agora em dois alvos: os indecisos e aqueles que mais sofreram com a crise. E tanto uns como outros são sobretudo eleitores do centro e classe média. É, por isso, esse o foco de todo o discurso da coligação nesta reta final da campanha.

“Não deixemos por omissão que outros decidam o destino de Portugal por nossa vez”, disse Paulo Portas no comício deste domingo no Parque de Exposições de Braga, depois de ter passado nos ecrãs gigantes um vídeo precisamente dirigido aos indecisos e aos que estão a ponderar não ir votar.

“Basta irmos todos e ganharemos”, atirou Portas, entusiasmado com a sala repleta para quem estava a falar.

“As sondagens não votam”, têm repetido Passos e Portas.

Missão: conquistar a classe média

“Foram os aposentados, foram os contribuintes, foram os funcionários públicos, foram os desempregados que fizeram um maior esforço e do ponto de vista pessoal passaram por uma maior restrição”, lembrou Paulo Portas esta noite num comício em Braga, que à semelhança do que Passos Coelho tinha já feito garantiu que esses estarão “na primeira linha” da folga que o crescimento económico permite.

Parte do discurso baseia-se, de resto, naquilo que o Governo terá para oferecer nos próximos quatro anos: reposição de salários e pensões, alívio fiscal. Como resume uma fonte da direção da campanha, “a remoção progressiva da austeridade”.

Mas há também uma mensagem forte: a de que os sacrifícios não podem ser desperdiçados.

“E há hoje quem se espante que tantas pessoas depois daquilo que passámos esteja hoje com tanta esperança no futuro”, apontou Passos Coelho, depois de lembrar as dificuldades pelas quais os portugueses passaram nos últimos quatro anos, para chegar à conclusão que isso só acontece porque os portugueses reconhecem os resultados obtidos pelo Governo.

“Não há nada de errado em apoiar o que deu certo”, diz Passos que quer um resultado que vá para além da soma dos dois partidos que estão na coligação.

“Não podemos apelar apenas aos nossos partidos”, afirmou o líder da PàF, que garante que irá governar para “todos os portugueses”.

Pedro e Paulo prometem ‘não amuar’

Passos e Portas continuam a não usar a palavra, mas cada vez mais apelam a uma maioria absoluta.

A ideia é manter uma imagem de “humildade”, uma palavra cada vez mais presente nas intervenções de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas.

“No apoio que esperamos obter no Parlamento, na maioria que o Parlamento deve exibir para suportar o Governo.  O que nós queremos é que essa maioria esteja ao serviço dos portugueses, de todos os portugueses”, sublinhou Passos, que aproveitou para explicar o motivo pelo qual não tem apelado à maioria absoluta com todas as letras.

“Já perceberam por que é que não gosto de falar em absoluto. Ninguém gosta de poderes absolutos. O que nós queremos, portanto, não é absoluto. O que nós queremos mesmo é estabilidade para governar. E isso toda a gente sabe o que é”, afimou o líder do PSD.

A pensar no dia a seguir às eleições, Passos mostra-se disponível para consensos, para marcar a diferença em relação a António Costa, que já anunciou não estar disponível para viabilizar um orçamento da coligação.

“Nós não amuamos nunca com os resultados da eleições”, assegurou, frisando, no entanto, que não ter uma maioria terá um custo, que pode levar a “desperdiçar” os resultados conseguidos pelo Governo.

margarida.davim@sol.pt