O documento foi conhecido quando Passos estava já a chegar ao almoço de campanha no Bombarral, mas a comitiva fez saber que o primeiro-ministro não pretendia comentar o relatório de 2015 sobre reformas fiscais nos Estados-membros hoje divulgado pela Comissão Europeia.
“Nem pensar em comentar”, reagia um deputado social-democrata, reconhecendo o potencial de estrago do documento publicado pelas direções-gerais de Assuntos Económicos e Financeiros e de Fiscalidade, que afirma que Portugal (assim como a Irlanda, a Croácia e a Eslovénia) apresenta um "risco elevado" de sustentabilidade a médio prazo.
No discurso de Passos Coelho, perante uma sala cheia de militantes, nem uma palavra sobre o assunto.
A reação viria a ser prometida mais tarde: os jornalistas ficaram a saber que seria Paulo Portas quem, antes do jantar-comício de Pombal esta noite, falaria sobre o tema incómodo.
Antes, Paulo Portas tinha antes destacado o facto de o FMI estar prestes a fechar a sua representação em Portugal.
"Gostava de mencionar como exemplo, acho que não pode haver melhor exemplo simbólico do que mudou, e que passou relativamente despercebido. No final deste mês, daqui a dias, fecha o escritório do FMI em Portugal e eles decidiram não nomear mais representantes para Portugal", afirmou Portas, que vê nisso a metáfora perfeita para a situação do país.
“Não há melhor maneira, simbolicamente, de perceber o que mudou", reforçou Portas que já de manhã, numa produção de morangos nas Caldas da Rainha, tinha aproveitado a história da reconstrução das estufas depois do tornado de 2013 como uma imagem para o que o Governo teve de fazer para sair da crise.
“Tivemos de arregaçar as mangas e fazer tudo de novo”, contou a Passos e Portas o produtor de morangos que acabou por duplicar a área de exploração agrícola. “Temos uma história parecida”, atirou Portas, ressalvando que, no caso do país, o problema “não foi a natureza” mas antes “a natureza humana”.
Coligação já bebe champagne
À margem de assuntos complicados e longe das ruas, a campanha desta segunda-feira quase resvalava para o clima de festa que a coligação tem evitado exibir, mas que a confiança dada pelas sondagens faz adivinhar nos rostos da comitiva da PàF.
No dia do aniversário de Assunção Cristas, candidata pelo distrito de Leiria, não faltaram espumante, morangos e bolo de aniversário, tudo oferecido pela empresa de produção agrícola, numa festa de anos improvisada, com Passos e Portas a afinarem as vozes para cantar os parabéns à ministra.
Não será demasiado cedo para abrir o champagne? Cristas acha que sim. “Vamos ver. Ainda há muito trabalho pela frente”, garante ao SOL, com um sorriso que não disfarça a convicção que já se apoderou de todos os elementos da coligação e que faz acreditar numa vitória, mesmo sabendo que ainda não está garantida a maioria “grande e boa” que Passos Coelho pediu no comício de ontem à noite em Braga.
Como Assunção Cristas mudou o CDS
Foi o primeiro dia em que Assunção Cristas se juntou à caravana de campanha dos líderes, mas a ministra da Agricultura tem sido talvez a ausente mais presente por estes dias. Com uma volta que se tem dedicado a mostrar o sucesso do setor agro-alimentar, têm sido vários os elogios feitos a Cristas, tanto por Portas como por Passos.
Portas, que tem aliás elogiado abundantemente o carisma de João Almeida e Nuno Melo e a “capacidade de trabalho” de Luís Pedro Mota Soares, reforçou hoje as qualidades positivas de Assunção, um nome que também faz parte das listas dos seus possíveis sucessores na liderança do CDS.
Ao almoço no Bombarral, Paulo Portas contou até a história de como descobriu Cristas depois de a ver no programa Prós e Contras sobre o aborto na RTP1 e de como a convidou para o partido. Na altura, a agora ministra confessou-lhe que “havia coisas de que gostava” no CDS, mas outras que achava antiquadas. O líder convidou-a a vir mudar o partido por dentro.
Não foi a única vez que, segundo Portas, Assunção teve um papel relevante na mudança do CDS. Quando a convidou a assumir um papel mais ativo no partido, Cristas avisou-a de que como mãe os seus horários não eram compatíveis com reuniões “com horários de homens” pela noite fora. Portas aproveitou a sugestão e, assegura, acabou com elas.