Esta campanha é para velhos

São mais de 3,5 milhões os pensionistas em Portugal. Num universo de cerca de 9,5 milhões de eleitores inscritos nos cadernos eleitorais – segundo dados da Pordata –, os idosos são uma fatia importante do eleitorado. E isso tem sido bem visível na campanha da coligação, tanto nas ruas e comícios, onde as cabeças grisalhas…

Por muito que a JSD e a JP se mobilizem para assegurar uma moldura jovem em torno dos candidatos, nas ruas, nos almoços e nos jantares de campanha são os mais velhos que estão em maior número. E são quase sempre eles que acabam por interpelar Passos e Portas, seja em calorosos cumprimentos – como acontece na maior parte das vezes –, como para fazer queixas.

Ficou famoso o episódio do reformado que, no lar da Santa Casa da Misericórdia do Barreiro, se queixou a Passos da pensão que recebe. A igualmente muito famosa ‘senhora de cor de rosa’ era também uma reformada. E a coligação não desconhece que entre os pensionistas estão muitos dos descontentes cujo voto é preciso cativar.

Passos ‘trouxe’ o pai para a campanha para chegar aos idosos

Nesta segunda semana de campanha, Passos Coelho evocou até o pai, de 89 anos, para garantir que não é indiferente aos sacrifícios que passaram os reformados que viram as suas pensões cortadas.

O líder da coligação tem, contudo, frisado a intenção – prevista já no Programa de Estabilidade e que decorre da decisão do Tribunal Constitucional – de repor os cortes nas pensões.

Passos, quando elenca “os que mais sofreram com a crise”, nunca se esquece de referir os “pensionistas”. E de prometer que eles, a par dos desempregados e dos funcionários públicos, estarão “na primeira linha” dos benefícios que a folga do crescimento económico permitirá na próxima legislatura.

Tanto Passos como Portas não se têm cansado de lembrar que “foi o PS que congelou as pensões mínimas sociais e rurais” e que foi a coligação quem as descongelou.

Os líderes da coligação têm, de resto, feito tudo para contrariar a ideia de que haverá um corte de pensões que se gerou depois de ser revelado em Abril que o Programa de Estabilidade enviado a Bruxelas pelo Governo previa uma poupança de 600 milhões de euros na Segurança Social.

Estratégia da PàF está a convencer os mais velhos

A estratégia de falar para os mais velhos e de apelar a valores de “confiança” e “estabilidade”, ao mesmo tempo que se acena com o fantasma do “radicalismo” do PS, parece estar a dar resultados junto do eleitorado sénior.

Há sondagens que mostram que a coligação está à frente no segmento dos maiores de 55 anos. Uma delas foi mesmo conhecida ontem: o inquérito diário da Intercampus para a TVI, TSF e Público, que revela a PàF a liderar as intenções de votos entre os mais velhos.

Numa eleição que promete ser muito disputada, com a sombra do empate técnico ainda não completamente desfeita, Passos e Portas têm tentado cativar o eleitorado idoso, conscientes de que a vitória passa também por aí.

Os seniores são, de resto, uma faixa importante do eleitorado, até porque tradicionalmente são os mais jovens quem mais se abstém. Nas últimas europeias, 70% dos eleitores entre os 18 e os 24 não foram votar, quando o total da abstenção registada nessa votação foi de 66,2% – a mais elevada de que há registo em Portugal.  

margarida.davim@sol.pt