Depois de um pacto de não-agressão entre o PS e PCP e BE, mais visível no debate televisivo entre o líder do PS e o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, a quatro dias das eleições, Costa muda a estratégia e parte para o ataque. Num almoço em Setúbal, bastião autárquico do PCP, Costa apelou aos partidos mais à esquerda para que não “desperdicem energias” em ataques ao PS, concentrando-se naquele que deve ser o adversário, a direita.
“Há forças de esquerda mais apostadas em atacar o PS do que atacar a direita, dir-se-ia que preferem a direita no poder mesmo que isso implique mais sofrimento, a troco de mais votos, a troco de mais deputados”, reforçou Manuel Alegre, no comício desta noite, em Lisboa. “Para alguns o PS é o inimigo principal. O que eles estão a fazer é um grande frete à direita portuguesa”, concluiu o ex-candidato presidencial que viu a sua primeira candidatura ser apoiada pelo BE.
Com as sondagens ainda sem apontar um vencedor claro a 4 de Outubro, embora nas tracking polls a coligação esteja na frente, Alegre lembra que o PS já travou “muitos combater desiguais” na sua História e que “não tem medo, não cede a chantagens nem a sondagens, não se rende”.
O histórico do PS foi duro no ataque à coligação, acusando a “direita fundamentalista” de querer fazer um “ajuste de contas final” com o Estado Social. “Para esta direita revanchista, somos o lado mau e subversivo da História. Olham para nós e veem os conjurados de 1640”, acusou.
Alegre virou-se também contra os interesses económicos e contra a comunicação social: “O PS não tem bancos, não tem jornais, não tem televisões, não tem empresas de sondagens”. E deixou um lamento: ”Ele apanha de todas as direcções, toda a gente está apostada em bater em António Costa. Mas não se trata de um ataque a António Costa como pessoa, é um ataque a todos nós, a todos os socialistas”.
O estilo de Costa
Num comício composto, num dos pavilhões da FIL, em Lisboa Costa jogava em casa. “Se calhar há outros que gostam mais de outro estilo, pois eu gosto desta minha maneira de fazer política”, disse Costa, frisando que não mente, ao contrário de Passos Coelho e Paulo Portas. “Foi por isso que, em três eleições sucessivas em Lisboa, ganhei cada uma com mais votos que a anterior”, afirmou Costa, valendo-se uma vez mais do seu currículo como autarca. Um feito que gostaria de repetir agora no país.
A primeira semana de campanha pecou pela falta de gente nas ruas, algo que o líder do PS admitiu, ainda que não directamente. “A resposta que encontrei em Lisboa e tenho vindo a encontrar, sobretudo desde sábado, em todo o país é a resposta, não só dos socialistas, mas do povo português”, disse Costa. A resposta que, segundo o líder do PS, os portugueses já perceberam que precisam de votar no PS para derrotar a direita.
O líder da Federação de Lisboa do PS, Marcos Perestrello, também já se tinha referido à campanha: “O que está em jogo não é a avaliação destas últimas semanas de campanha eleitoral. É a avaliação destes últimos quatro anos”.
Foi no fim-de-semana que o Minho deu alento ao PS com duas arruadas, em Guimarães e Barcelos, muito participativas. Hoje, em Lisboa, a tradicional descida da Morais Soares teve uma mobilização competente que aqueceu a alma da caravana, mas longe da “avalanche” de gente que alguns socialistas comentavam entre si já no final da arruada, na Praça do Chile.
Um dos casos que atrapalhou o arranque da campanha oficial do PS foi a declaração de Costa, à Antena 1, de que inviabilizaria um Orçamento do Estado da coligação. O assunto já parecia esquecido mas Basílio Horta desenterrou-o: “António Costa teve a ousadia de dizer que votaria contra o projecto de Orçamento. Que horror, o que foi fazer! Queriam que fosse hipócrita? E se aparece um Orçamento que é a cara desta política?”. “Obviamente tinha que votar contra”, concluiu o fundador do CDS que se apresentou como um democrata-cristão.