“Uma das razões por que me levantei de muletas foi por isto: eu li num jornal que a coligação tinha introduzido na campanha o fantasma de um governo de esquerda”, começou por dizer o centrista, que garante que esse “não é nenhum fantasma”.
“É uma realidade”, assegura Lobo Xavier, que vê essa realidade “transparecer do discurso cada vez mais agressivo de António Costa”.
A ‘derrotazinha’, as ‘pracinhas’ e o saco de gatos
O colega de Quadratura de Círculo de Costa, acha que o líder do PS já se contenta “com uma derrotazinha” e já antevê um futuro de disputa interna entre socialistas depois da vitória da coligação no domingo.
Para Lobo Xavier, Costa vai “arranjar um saco de gatos na Assembleia da República para proteger a sua continuidade política”.
É que, apesar de Francisco Assis ter vindo hoje em entrevista ao jornal i assegurar não ser candadato a suceder a Costa, na coligação acredita-se cada vez mais que a continuidade da liderança socialista será posta em causa depois do resultado das eleições.
Lobo Xavier acha mesmo que o currículo de António Costa não lhe garante as ferramentas para assumir os destinos do país num quadro de uma vitória socialista sem maioria.
“Ele tem experiência é de fazer acordos sobre umas pracinhas em Lisboa e sobre o saneamento básico em Lisboa”, ironizou, apontando os riscos de o PS fazer acordos com “quem não quer o euro, não quer a Europa e não quer pagar a dívida”.
Essa é, de resto, uma das principais razões que Lobo Xavier aponta para pedir aos portugueses “uma maioria para evitar um cenário de Grécia, que é o que parece que está por trás do pensamento do PS”.
O que Passos e Portas sofreram com o ‘ecossistema comunicacional’
Mas Lobo Xavier não quis acabar a intervenção sem falar no que sofreram Passos e Portas nestes quatro anos. “Ninguém imagina o que passaram”, disse, colocando na lista das tormentas que enfrentaram o “ecossistema comunicacional”, do qual também faz parte como comentador.
Paulo Portas aproveitou a deixa, para lembrar aos membros da JP e da JSD presentes, o papel do então jovem Lobo Xavier no comício do CDS no São Luís, recordando a “reação violenta daqueles que nunca comprenderam por que é que perdem as eleições e que se julgavam donos da legitimidade revolucionária”.
Portas “com pena”, fala de Seguro
Passaram-se muitos anos desde então, mas Portas acha que continua a não ser possível confiar na esquerda. E deu como exemplo o acordo que a coligação fez com António José Seguro para realizar uma reforma na qual Lobo Xavier teve um papel fundamental, a reforma do IRC.
“Pena tenho eu que tenha mudado o líder e afinal o que foi decidido não conta”, comentou Portas, que vê neste PS de António Costa um discurso de “ziguezagues”.
Portas apontou “o grau de contradição e de risco que este PS assume perante os eleitores”.
“O PS agora diz que é um referencial de estabilidade”, disse Portas, que afirma não perceber essa afirmação.
“Mas alguém pode explicar como é que defende a estabilidade alguém que se propõe votar contra um orçamento de um governo acabado de eleger?”, perguntou o líder do CDS. “Se isto é estabilidade, o que será a instabilidade”, rematou.
Paulo Portas não quis, porém, deixar passar em claro uma coisa que considera “ainda mais equívoca”, o “plano B” que o PS já afirmou ter.
“Seria muito importante que os socialistas explicassem o que é o tal plano B”, defendeu Portas, que quer ver Costa esclarecer até domingo se esse plano passa por se aliar com as forças mais à esquerda.
“Porque se o plano b é governarem o país com o BE ou com o PCP, isso é obviamente governar contra o interesse nacional, contra o interesse da classe média e contra o interesse da economia portuguesa”, atirou Portas.
Talvez Portas ainda tenha a oportunidade de pedir esse esclarecimento de viva voz a António Costa. O 12.º dia de campanha segue para a arruada em Santa Catarina, no Porto, a cidade por onde hoje andará também a comitiva socialista.