Se a arruada no Porto servir de barómetro, Passos tem razão para estar tranquilo. Um mar de gente como ainda não se tinha visto desde o início da campanha levou a um entusiasmo que deixou os apoiantes a gritar “já só faltam dois dias para a vitória”.
Nem tudo foram rosas nas ruas do Porto, mas também não houve qualquer incidente a manchar a festa da coligação Portugal à Frente (PàF).
Nervosismo e crispação à moda do norte
Horas antes de começar a arruada, era visível o nervosismo na segurança da comitiva. Temia-se uma manifestação de lesados do BES ou ânimos exaltados entre militantes da coligação e do PS.
Tudo foi calculado ao milímetro, com as distritais que mobilizaram os militantes para a arruada a darem instruções específicas para que ninguém reagisse a provocações.
Com os nervos à flor da pele e o medo de que um incidente manchasse a campanha, temia-se até que houvesse agentes provocadores infiltrados nas ruas para provocar desacatos. Mas, no centro do Porto, não havia manifestações à vista.
Mas a tensão era de facto alguma, quando a arruada começou. Se houve momento em que se sentiu na rua a crispação de que muitas vezes falam os políticos foi no Porto.
Como o colorido do vernáculo em sotaque nortenho, não faltaram insultos e gritos mais exaltados. Mas “ladrões” foi a palavra que mais se ouviu entre os que não apoiam a coligação, gritada por um ou outro popular que na rua de Santa Catarina ia vendo passar a eufórica caravana ao ritmo dos bombos.
Um ou outro apoiante da PàF ia respondendo mais ou menos na mesma moeda. E logo no início houve mesmo um idoso que quase entrou num elétrico que passava com destino a Massarelos para agredir com o pau da bandeira um popular que tinha insultado a coligação. O idoso foi, contudo, rapidamente acalmado por outros apoiantes da PàF que por ali estavam. E a tensão nunca descambou para nada verdadeiramente grave.
No meio da confusão, foram poucos os que se conseguiram aproximar de Passos e Portas, sempre no meio da caixa formada por seguranças e elementos das Jotas.
Antes, uma senhora tinha aproveitado para se aproximar de Nuno Melo e gritar-lhe impropérios a poucos centímetros da cara. Quando Passos chegou, não teve hipóteses: era impossível chegar perto.
Apesar de tudo, o clima era mais de festa do que de confronto. Na comitiva ia-se falando no “desespero” do PS que, a poucos metros, fazia também campanha.
Quando a caravana chegou à Praça D. João I, para o comício, o ambiente era já de vitória.
Os recados de Portas a Costa
“Vieram muitos e não precisámos de andar a espalhar cadeiras”, dizia Portas, que atacou o “este PS” por estar a fazer “uma campanha radical inédita”.
Portas admite mesmo que haja socialistas “incomodados com tanto radicalismo, com tanto esquerdismo”, quando “este PS” põe a hipótese de se juntar a uma “frente radical” por “desespero”.
Convencido de que António Costa já só pensa em gerir as consequências internas de um mau resultado, Paulo Portas manda recados ao líder do PS. “Interessam-nos pouco os manuais de sobrevivência de líderes que estão a pensar o que fazer à derrota”. Portas quer que fique claro que Costa não garantirá a estabilidade governativa caso a PàF ganhe sem maioria e aproveita para dramatizar.
“Connosco, os portugueses sabem quem governa”, disse o líder do CDS que sabe que a vitória, embora esteja próxima, não pode dar como garantida uma maioria absoluta.
Por isso, os discursos de Passos e de Portas centraram-se na necessidade de conseguir essa maioria no Parlamento sem nunca usar a palavra “absoluta” como tem sido apanágio da campanha.
“Alguém tem dúvidas de que nestes quatro anos se não falhámos foi porque tivemos uma maioria no Parlamento para nos apoiar?”, questionou Passos, que quis tentar desfazer as ideias negativas que pode haver em torno do conceito de uma maioria absoluta, sublinhando que durante este Governo a comunicação social não foi condicionada, os tribunais foram livres e o Presidente da República mostrou independência. “Por que haveria de ser diferente?”, pergunta agora o candidato.
Os dados que faltam
É cada vez mais evidente a confiança de Passos. O candidato começa a ver próxima a vitória. Agora, falta saber quantos mandatos lhe darão os votos dos portugueses no Parlamento. Sem dados desagregados por distritos, é difícil fazer as contas. E isso explica a cautela que ainda tempera a cada vez maior segurança que se vive na PàF. É isso que explica também o contínuo apelo ao voto e a dramatização da necessidade da maioria absoluta ao mesmo tempo que se mandam recados a um PS que, muitos sociais-democratas e centristas, acreditam que podem em breve mudar de líder.