Manuel Alegre: Combate esquerda contra esquerda é a força da direita

O dirigente histórico socialista Manuel Alegre avisou nesta quinta-feira que as eleições de domingo são “o mata-mata” e apontou que o combate da esquerda é a força da direita, insurgindo-se também contra a manipulação da aliança “poder mediático e financeiro”.

Manuel Alegre foi o antepenúltimo orador do comício de Coimbra, num discurso que antecedeu o do antigo ministro dos Assuntos Sociais e fundador do PS, António Arnaut.

O ex-candidato presidencial defendeu que os socialistas estão a travar nas eleições "um combate desigual" contra "uma coligação do dinheiro organizado, dos poderes financeiros e mediático" e deixou um recado ao PCP e Bloco de Esquerda: "O combate da esquerda contra a esquerda é a força principal da direita", disse, provocando uma enorme ovação.

No seu discurso, Manuel Alegre apontou o caráter "racional e pragmático" dos principais responsáveis da coligação PSD/CDS-PP e salientou que estes dois partidos, se concorrerem juntos a eleições, dificilmente baixam dos 35 por cento.

"Não é racional que uma parte da esquerda gaste as suas energias, fazendo do PS o inimigo principal. Nós, no PS, não nos enganamos no adversário, estamos aqui para derrotar a coligação de direita", disse, antes de se referir ao percurso feito pelos comunistas e socialistas portugueses após o 25 de Abril de 1974, defendendo, então, que as duas forças políticas têm de ultrapassar de vez "traumas" do passado.

"Entre o PS e o PCP há traumas que resultam do verão quente de 1975 – um problema de fundo que nunca ficou resolvido e que é uma questão de memória que passa de pais para filhos. Não podemos ficar prisioneiros nesse trauma. É a questão fundamental para o futuro da democracia", advogou o ex-candidato presidencial.

Apesar das críticas dirigidas às atuais direções do PCP e Bloco de Esquerda, Manuel Alegre elogiou o exemplo pragmático do líder histórico dos comunistas, Álvaro Cunhas, na segunda volta das eleições presidenciais de 1986 entre Mário Soares e Freitas do Amaral.

"Álvaro Cunhal nunca se esqueceu que há uma fronteira entre a esquerda e a direita – e nas eleições presidenciais de 1986 apoiou e deu a vitória Mário Soares. Cada um que assuma as suas responsabilidades, após o dia 04: ou um Governo de direita ou um Governo do PS", afirmou, antes de aumentar a dramatização com o seguinte apelo: "A todos os que amam a democracia, o Estado social e os valores do 25 de Abril não desperdicem os seus votos". 

"Como disse [o treinador de futebol Luiz Felipe] Scolari, esta é a hora do mata-mata", declarou, levantando uma vez mais o pavilhão dos Olivais.

Manuel Alegre fez também um ataque cerrado ao Governo e, indiretamente, ao Presidente da República, Cavaco Cilva, aludindo, entre outros factos, à controvérsia sobre a ação da atual ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, face a prejuízos da Parvalorem, entidade que resultou do Banco Português de Negócios (BPN).

"A direita mente sem pudor e sem vergonha, mascaram as contas públicas, como fez a ministra das Finanças. Noutro país, ou aqui, com outro Presidente da República, não ficaria impune", disse.

O dirigente histórico do PS advertiu depois que os socialistas estão a travar "um combate desigual" nas eleições legislativas, não apenas contra a coligação PSD/CDS-PP.

"Está a defrontar a coligação do dinheiro organizado, do poder financeiro e do poder mediático. São eles que estão por detrás de [Pedro] Passos [Coelho] e [Paulo] Portas. É um combate desigual", sustentou, antes de lançar um ataque indireto a ex-presidentes do PSD que são atualmente comentadores televisivos, visando em especial Marques Mendes. 

"Basta ver os comentadores televisivos, que saíram dos seus poleiros e se passeiam ao lado de Passos Coelho e Paulo Portas. Não venham dizer que há pluralismo, há batota descarada, um atentado à democracia. Estamos perante uma colossal manipulação", declarou Manuel Alegre.

O histórico socialista advertiu ainda que, se a coligação PSD/CDS-PP vencer, "nada ficará na mesma".

"Estamos perante uma direita fundamentalista contra o Estado social e contra a própria História de Portugal. Se o PS ganhar, o 5 de outubro e o 1º dezembro vão continuar a ser comemorados como feriados nacionais. Mas, eles, na direita, também não gostam de outros dois feriados nacionais: O 25 de Abril e o 1.º de Maio. A nossa luta é decisiva", acrescentou Manuel Alegre.

Lusa/SOL