Por isso, os líderes do PSD e do CDS vieram deixar claro que, com mais mandatos, cabe à Portugal à Frente (PàF) formar governo. Mesmo que saibam que, para governar, vão precisar de "compromissos", como advertiu Passos.
"Seria estranho que quem ganhasse às eleições no dia a seguir às eleições não pudesse governar", sublinhou, Pedro Passos Coelho, que alertou para as dificuldades que surgirão da nova composição do Parlamento.
"Se há uma coisa que os cidadãos não apreciam nas noites eleitorais é ouvir toda a gente dizer que ganhou. Assim como fizemos uma campanha limpa e pela positiva, devemos manter essa atitude hoje à noite e nos dias que se seguem", atacou Paulo Portas.
"É tempo de união e de construção. É tempo de compromisso e de equilíbrio", destacou Portas, antes de Passos voltar a lembrar a necessidade de "procurar entendimentos" com o PS, nomeadamente no que toca à reforma da Segurança Social.
Portas lembrou, de resto, que há que saber "ler e respeitar essa dupla circunstância" que é a de os portugueses terem dado mais mandatos à PàF, mas não uma maioria absoluta. Algo que, no entendimento de Portas, vai obrigar a «um esforço enorme de política responsável, de política de abertura e política de compromisso».
Portas lembra a Costa o resultado que o fez contestar Seguro
Apesar disso, Portas não resistiu a lançar algumas farpas a António Costa, deixando no ar a ideia de que no PS há que tirar consequências do resultado eleitoral.
"Tínhamos perdido as eleições europeias com cerca de 28%. Vencemos agora as eleições legislativas com cerca de 39% dos votos", apontou, sublinhando que PSD e CDS progrediam "significativamente".
"Este resultado desmente os que nos deram por acabados ou esgotados. E é muito impressivo se levarmos em conta o que tivemos de fazer nos últimos quatro anos", comentou o líder centrista, que frisou a diferença de 7% que separa a coligação do PS.
"A derrota do PS é inapelável", atacou Portas, que aludiu às consequências que o resultado nas europeias teve na liderança do PS. "Mas isso não são contas do nosso rosário", disse com uma ironia que arrancou risos à sala.
Portas prefere destacar uma vitória que considera histórica, mesmo que sem maioria absoluta. "É a primeira vez em 25 anos que o espaço AD – à epóca foi apenas o PSD – consegue renovar o mandato. Agradecemos aos portugueses a oportunidade que nos dão de podermos governar em tempo de crescimento".
Portas lembra a Catarina que Portugal não é a Grécia
"Não é, por isso, possível transformar uma derrota nas urnas numa espécie de vitória na secretaria", avisou o líder do CDS, que não acabou o discurso sem recados a Catarina Martins, que conseguiu o resultado mais surpreendente da noite eleitoral e que avisou estar na disposição de inviabilizar a governação da coligação através da rejeição do programa de governo, fazendo uso da maioria de esquerda no Parlamento.
"Sabemos que há alterações na relação de forças à esquerda da esquerda", reconheceu Portas, notando que "o BE sai melhor do que a CDU". Mas, apontou o líder centrista, isso não faz com que haja legitimidade para governar à esquerda.
"A larga maioria do Parlamento continua a ser formada pelos partidos do arco da governabilidade", frisou Portas, com uma provocação.
"Não tem nada a ver com o que já vimos acontecer em Espanha ou na Grécia", lançou o líder do CDS, lembrando que o seu partido continua a "ser o terceiro grupo parlamentar a seguir ao PSD e ao PS".
Dentro da mesma lógica, Passos avisou que os tempos que aí vêm "são desafiantes» e exigem «compromissos" com os partidos que defendem a permanência no euro e o cumprimento das regras europeias e que – como notou – representam "mais de 70" da Assembleia da República.
Um Orçamento sem novidades
O primeiro desafio de Passos será o de aprovar o Orçamento do Estado. E aí Passos avisou já que não haverá surpresas. O que a coligação vai levar ao Parlamento é o que está já previsto no Programa de Estabilidade.
Ou seja, continua a haver a "necessidade de manter a disciplina e o rigor das contas públicas", sendo de esperar ao memso tempo "segurança e gradualismo" na reposição do rendimento, "deixar para as medidas de austeridade para trás". Nada de novo: a sobretaxa do IRS é para devolver e os cortes em salários e pensões para remover ao ritmo já previsto.