“O PS não alcançou os objectivos eleitorais a que se propôs. Como secretário-geral assumo por inteiro a responsabilidade política e pessoal pelo resultado do PS”, disse Costa, quando os resultados eleitorais ainda não estavam fechados mas davam a coligação cinco pontos à frente do PS.
Depois desta declaração ouviu-se “não” entre os socialistas que estavam no Altis para dar apoio ao líder. O que parecia ser um anúncio de demissão transformou-se, afinal, em algo bem diferente. Já em resposta aos jornalistas, Costa acabou por assumir: “Manifestamente não me vou demitir”.
Com vários seguristas a pedirem já a sua cabeça, Costa quis serenar os ânimos internos notando que o partido irá analisar “serenamente” os resultados eleitorais. “Nunca sou nem nunca serei um problema para o PS”, garantiu. A Comissão Política do PS vai reunir-se já esta terça-feira.
Costa recusa repto de CDU e BE para derrubar direita
E também não será um problema para a governabilidade. António Costa recusou o repto de CDU e BE que desafiaram o PS a não deixar a maioria tomar posse. “O PS não contribuirá para maiorias negativas que criem obstáculos e que não sejam susceptíveis de criar alternativas credíveis de governo”, assegurou. “O PS sempre foi defensor de moções de censuras construtivas. Não inviabilizaremos um governo sem ter um governo para viabilizar”, continuou Costa. Ou seja, o líder do PS vira-se para os partidos da esquerda, admitindo até derrubar o Governo mas com uma solução de Governo, numa referência a acordos com PCP e BE. “Ninguém conte connosco para sermos só uma maioria do contra, sem condições de formar uma alternativa”, rematou Costa. Para logo afirmar que a legitimidade da direita é reduzida: “Ninguém conte connosco para viabilizar a prossecução pela coligação da sua política como se fosse a nossa e tivesse recebido a maioria dos portugueses”.
Com os resultados a darem uma maioria relativa à direita, Costa recusou desde já aliar-se à coligação para soluções de Governo. “Ninguém pode contar com o PS para viabilizar políticas contrárias às do PS”, defendeu. Mas deu a garantia de que não deixará o país ingovernável, ou seja, deixou a porta aberta a eventuais acordos: “O PS assume a plena responsabilidade de garantir que a vontade dos portugueses não se perca na ingovernabilidade, nem no vazio ou alheamento”.
“Mais votos e mais deputados” foi o pedido constante de Costa ao longo da campanha, ainda com a esperança de que se tivesse mais votos e a coligação mais deputados – um cenário apontado por algumas sondagens -, poderia ser chamado a formar Governo pelo Presidente da República. Mas – tendo em conta os resultados eleitorais que ainda não são finais – nem mais votos, nem mais deputados. “O PS teve menos votos e não é o partido parlamentar com mais deputados. O ónus da constituição de Governo cabe naturalmente à força política que preenche os critérios constitucionais para a formação de Governo”, assumiu Costa.
Ainda assim, o secretário-geral do PS notou que a coligação perdeu a maioria e por isso deixou um aviso à direita, que não terá a vida facilitada no Parlamento para fazer aprovar legislação: “A coligação tem de perceber que há um novo quadro parlamentar e não pode julgar que pode continuar a governar como se nada tivesse acontecido”, defendeu.
Quanto ao Orçamento do Estado, Costa recusou dizer se o aprovaria. “Infelizmente é uma pergunta extemporânea. Há mais perguntas que se vão colocar até chegar o momento do Orçamento”, afirmou.
Costa assumiu que foi “uma campanha muito difícil, onde os socialistas demonstraram até ao último minuto a fibra de grandes combatentes.” “Nunca desistiram, nunca perderam o ânimo e até ao último instante lutaram pela vitória inalcançada”, disse o líder do PS.
Nos últimos dias, a campanha do PS focou-se em atacar BE e CDU, numa tentativa de captar o voto útil. Sem sucesso. “Houve certamente muitos eleitores à esquerda que acharam que era mais eficaz votarem noutros partidos à nossa esquerda do que concentrarem votos no PS. Porque acharam mais eficaz? Não sei dizer. O futuro dirá se foi ou não mais eficaz”, admitiu Costa.