Os socialistas dividem-se entre aqueles que apoiam um governo à esquerda com PCP e BE e os que recusam um diálogo com a extrema-esquerda, muitos preferindo uma solução à direita, para viabilizar um governo PSD/CDS.
Saiba quem é contra, quem é a favor e as declarações que estão a marcar a polémica, feitas a órgãos de comunicação social, no Facebook e no Twiter.
Contra um governo PS com PCP e BE:
Sérgio Sousa Pinto
(membro do Secretariado Nacional)
“Aparentemente o BE e o PCP estão dispostos a viabilizar um governo do PS, um governo com menos deputados socialistas no Parlamento que a coligação de direita. Mas não estão disponíveis para integrar o governo e partilhar a responsabilidade de governar. O que se seguiria seria fácil de imaginar. Uns a pensar no país, outros a pensar na sua plateia, outros ainda a pensar em eleições e na maioria absoluta. A esta barafunda suicidária, sem programa nem destino certo, chamar-se-ia ‘governo de esquerda’ – coisa que nem os eleitores do Bloco desejaram, optando pelo partido do protesto histriónico (e agora fanfarrão). Um penoso caos que entregaria Portugal à direita por muitos anos. Mas talvez permitisse ao BE suplantar o PS. E não é essa a verdadeira agenda, velha de 40 anos, de quem se reclama ‘da verdadeira esquerda’? Talvez me engane.”
Francisco Assis
(eurodeputado)
“Entendo que subsistem divergências de tal modo insanáveis que não vislumbro a possibilidade, não apenas de não se constituir um Governo de coligação, que me parece, a nível pessoal, absolutamente impensável, como também julgo que não é pensável um Governo do PS, um Governo monopartidário, com o apoio parlamentar do PCP e Bloco de Esquerda.”
Vera Jardim
(membro da Comissão Política Nacional)
“Vejo o diálogo com a coligação PSD/CDS. Com a esquerda não vejo capacidade nenhuma de diálogo.”
Carlos Silva
(líder da UGT)
“Não me parece que efetivamente as forças à esquerda do Partido Socialista, deem, na minha opinião, a garantia de estabilidade em relação ao futuro.”
Helena Freitas
(cabeça de lista do PS em Coimbra)
“Passos Coelho ganhou as eleições e tem todo o direito a governar. É assim que interpreto a vontade dos portugueses, respeitando a perceção prevalecente na nossa democracia. Sendo verdade que existe uma grande maioria de portugueses contra a coligação (facto que Passos e Portas fingem que não percebem), trata-se de uma ‘maioria negativa’, como muito bem disse António Costa. Uma maioria que não se apresentou aos eleitores e, portanto, para efeitos de governo, não existe, não é legítima.”
Vital Moreira
(ex-eurodeputado)
“Politicamente falando, um governo do PS com o PCP e o BE, se vier a ser realidade, pode ser uma péssima solução e estar votado ao fracasso (como penso), mas não pode ser acusado de ilegítimo por alegadamente defraudar a vontade dos eleitores. Os eleitores não votam em hipotéticas soluções de governo, votam em partidos, que depois negoceiam as soluções governativas considerando a sensibilidade do seu eleitorado.”
Francisco Seixas da Costa
(ex-embaixador)
“Sou crítico da ‘frente’ de esquerda. Mas só para ver a direita tão empanicada por poder perder o ‘pote’, já valeu a pena a coreografia…”
André Figueiredo
(ex-chefe de gabinete de José Sócrates)
“Eles olham para a esquerda, e pisca, pisca. Andam praí a piscar p'ra ver se arranjam conquista… Se o pisca falha será uma chatice!”
João Paulo Pedrosa
(deputado na última legislatura)
“A narrativa de Corin Tellado, a rainha das novelas rosa, não pode, no PS, substituir a reflexão política responsável. Quem viu (ou quem tinha ilusões) sobre o caráter devorista do BE e do PCP em relação ao PS, reveja as declarações da artista Catarina e do senhor Jerónimo e conclua que nem sempre o maior cego é o que não quer ver. Estes dois partidos só estão interessados em criar problemas e desgastar o PS na esperança que, uma vez capturada a sua ideologia o resto virá, fatalmente, por arrasto.”
Os que apoiam um governo à esquerda:
João Galambra
(membro do Secretariado Nacional)
“Se o PCP, o PEV e o BE estiverem dispostos a negociar em termos que sejam compatíveis com o programa do PS, e se estiverem disponíveis para assumir um compromisso que assegure uma solução governativa estável, qual o fundamento para recusar esse hipotético acordo? Se esses partidos mudarem de comportamento e forem flexíveis, fazendo o que nunca fizeram no passado, não pode ser o PS a ficar agarrado ao passado, respondendo com o mesmo sectarismo que sempre atribuiu a esses partidos. Não poderá ser por culpa do PS que a esquerda não governa, nem será por culpa do PS que Passos Coelho se mantém em funções. Isso só acontecerá se não houver alternativa (credível)”.
Porfírio Silva
(membro do Secretariado Nacional)
“Irão propor a ilegalização do PCP e do BE?! Irão propor que o PCP e o BE sejam impedidos de apresentar candidaturas às eleições?! Sou levado a fazer estas perguntas quando ouço os ‘raciocínios’ políticos de certas pessoas que se julgam no direito (divino?) de excluir certos partidos da governação. É legítimo concordar ou discordar de uma determinada solução política, mas é ilegítimo pretender que certos partidos podem apresentar candidatos mas não podem depois dar uso ao mandato popular que tenham recebido. Se, daqui a 10 ou 15 anos, o BE ou o PCP ganhassem as eleições com votos suficientes para governar, o que fariam esses pretensos democratas? Pediriam um golpe militar para impedir tal governo? Realmente, na cabeça de certos oportunistas a democracia não está minimamente consolidada. (E, repito, isto não é nada contra os que discordam politicamente desta ou daquela solução, porque no plano dos programas políticos podemos estar completamente em desacordo sem que isso nos leve para derivas anti-constitucionais.)”.
António Arnaut
(fundador do PS)
Um Governo “mais patriótico e de esquerda”, liderado pelo PS, “estaria em melhores condições de defender os interesses do povo, dos trabalhadores, reformados e pensionistas” (em declarações à Agência Lusa).
Augusto Santos Silva
(membro da Comissão Política Nacional)
“1. Se o PS sempre se queixou, e bem, do imobilismo do PCP, não pode agora tornar-se imóvel só porque o PCP se mexeu…
2. Se partirmos todos do princípio de que, em nenhuma circunstância e por nenhum motivo – mesmo quando os três partidos juntos têm muitos mais votos e mais deputados do que toda a direita – o PS pode aceitar governar com o apoio da sua esquerda, então o que estamos a dizer é o mesmo que a direita diz: que a direita tem um poder divino de governar em Portugal, mesmo quando não consegue ter a maioria eleitoral.
(…) Já recusar liminarmente agora, mesmo se obtidas garantias de apoio estável, só porque sim, é que me parece uma auto-estrada para a irrelevância política”.
João Soares
(membro da Comissão Política)
“O PS deve comprometer-se seriamente na obtenção de uma maioria absoluta de esquerda, que permita ao país ter um Governo estável durante quatro anos, dispondo de uma maioria parlamentar absoluta. Isso consegue-se com uma negociação séria com o Bloco de Esquerda e com o PCP”.
Capoulas Santos
(presidente da federação PS/Évora)
“Façam este exercício, por favor. Imaginem que uma coligação de esquerda tinha ganho as eleições com maioria relativa e que dois partidos de direita tinham obtido, no seu conjunto, uma maioria de deputados. Acham que o Senhor PR e os comentaristas da praxe iriam apreciar as hipóteses de governo perante este quadro parlamentar da mesma forma que estão a fazê-lo com a opção inversa? Ou sou eu que estou a ler a Constituição ao contrário?”.
Tiago Barbosa Ribeiro
(presidente da concelhia PS/Porto)
“António Costa está a fazer história. Pela primeira vez desde a fundação constitucional, o PS está a enterrar definitivamente o PREC e a derrubar tabus. Lidera a iniciativa política e dialoga à esquerda, demonstrando que não será pelo PS que a esquerda não se clarifica e entende”.
Paulo Pedroso
(ex-dirigente)
“O PS tem a obrigação de não deixar que subsista qualquer dúvida de que está convicto de que recebeu dos portugueses um mandato para descontinuar o governo liderado por Passos Coelho e não para o suavizar.”
José Apolinário
(cabeça de lista às eleições por Faro)
“O PS é um partido chave da democracia portuguesa. Contrariando a posição partidária do ainda Presidente da República que nos pretende colocar como apêndice do PSD e propõe a exclusão e subalternização do Bloco e do PCP da vida política e parlamentar, o PS e António Costa assumem uma iniciativa de clarificação das condições de governabilidade à esquerda e de compromisso em torno das propostas concretas apresentadas pelo PS aos portugueses.”