Vitorino diz que PS ‘está a fazer uma simultânea de xadrez’

“É evidente que o PS está a fazer uma simultânea de xadrez: ao mesmo tempo que alimenta conversas à sua esquerda, mantém a negociação com a coligação”, interpretou António Vitorino, ontem à noite, na SIC Notícias.

O ex-dirigente socialista vaticina que tudo se encaminha para que o país só fique a conhecer o desfecho deste processo no Parlamento, quando Passos Coelho apresentar o programa de governo da coligação — uma opinião que foi partilhada por Santana Lopes, no mesmo espaço de comentário na SIC Notícias.

"Pelo que Passos Coelho disse hoje, acho que o que ele vai fazer é ir ao Presidente e dizer que forma governo sozinho. E como o líder do PS já disse que não derrubaria um governo se não tivesse uma alternativa — uma moção de rejeição só pode ser derrubada com os votos do PS –, aí no Parlamento logo se verá. Tudo se decidirá segundo as regras do nosso sistema parlamentar", defendeu António Vitorino.

Para Santana Lopes, "há manifestamente um impasse" nas negociações entre coligação e PS e "dali é difícil sair alguma coisa". "Portanto, tendo Passos Coelho ganho as eleições, a obrigação do Presidente, passada uma semana, é muito simples: nomeia-o primeiro-ministro, este forma governo, o governo vai à assembleia e aí cada grupo parlamentar assumirá as suas responsabilidades. Se houver moção de rejeição logo se verá quem vota contra, a favor ou se abstém", defendeu o ex-líder do PSD.

Tanto Santana como Vitorino recordam que a história constitucional portuguesa é a de que "quem ganha eleições, mesmo sem maioria absoluta, tem o direito a formar governo. "Não faria sentido nenhum o Presidente fazer o contrário", salientou Santana. "Mas depois o nosso sistema de governo é parlamentar e, portanto, o governo cai na AR se for apresentada uma moção de rejeição", acrescentou Vitorino, aconselhando prudência nas análises políticas: "Toda a gente dá por adquirido um governo à esquerda, eu sinceramente ainda não o vi. Temos de esperar para ver o que vai suceder, é o mais prudente, e não entrar nesta histeria em que toda a gente está a entrar".

Santana elogia Marcelo e Vitorino prevê eleição à primeira volta

Para António Vitorino, "o PS procurou simplificar as presidenciais decidindo não apoiar nenhum candidato, o problema é que estão a contar com uma segunda volta que nunca acontecerá". E disse mesmo que "isto vai ser resolvido à primeira volta, não haverá segunda" —  deixando implícito que acha que Marcelo será eleito à primeira volta.

Já Santana Lopes reconheceu que "Marcelo fez tudo bem" no lançamento da candidatura a Belém, mas não quis revelar o seu sentido de voto neste momento por "ainda não estar fechado o leque de candidatos" — deixando subentendido que aguarda pelo anúncio da decisão de Rui Rio. E manifestou a sua estranheza por "a esquerda quase estar a abdicar das presidenciais" quando ainda há pouco tempo dizia que era uma fase crucial. 

paula.azevedo@sol.pt