"Um problema que se revela cada vez mais sério e com consequências preocupantes na democracia portuguesa é este domínio quase absoluto dos grandes interesses e dos grupos económicos e dos seus arautos no sistema mediático, onde a pluralidade de opinião se vem extinguindo e a isenção no comentário político-ideológico é uma raridade", acusou o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, durante um comício no Porto, acompanhado pelo candidato presidencial Edgar Silva.
Para o dirigente comunista, as conversações entre PS, PCP e Bloco de Esquerda geraram uma reação: "Os despautérios que vimos, ouvimos e lemos de uns, o tom de arrogância que alguns manifestavam nas suas invetivas contra o PCP, a raiva incontida de outros perante a mera hipótese de que da nova Assembleia da República pudesse sair um Governo que não é do PSD e do CDS revelam bem até onde pretendem ir os interesses dominantes na sua campanha antidemocrática e desestabilizadora".
"Toda a argumentação para demonstrar que os votos que servem as suas pretensões são votos de primeira e os que não servem são votos de segunda. Os que antes peroravam abundantemente e lastimavam que o PCP não saísse do conforto do 'partido de protesto' – que nunca fomos – para tentar demonstrar a inutilidade do voto no PCP, ei-los agora a clamar 'aqui d'el rei' numa encenação catastrofista, empenhados numa despudorada campanha, numa tentativa de exclusão", afirmou Jerónimo de Sousa perante um auditório completamente cheio.
Para o secretário-geral do PCP, "uma coisa é certa: nada impede o PS de formar governo e entrar em funções", uma vez que, "mesmo num quadro em que o PS insista no seu programa e que não seja possível – o que de facto não é fácil – encontrar uma convergência sobre um programa de governo, nem assim se pode concluir que a solução seja um governo PSD/CDS".
"O problema está em saber se o PS escolhe entre dar o aval e apoio à formação de um governo PSD/CDS ou tomar a iniciativa de formar um governo que tem garantidas condições para a sua formação e entrada em funções. Há quem possa considerar estranha esta afirmação", realçou Jerónimo de Sousa, antes de frisar que "a Constituição não impõe a escolha de um primeiro-ministro entre os dirigentes do partido ou coligação mais votados".
Para Jerónimo de Sousa, "o que conta verdadeiramente e determina as soluções para a governação são as maiorias que se formem na Assembleia da República e dão suporte a um governo e não a um partido com mais votos".
Assim sendo, o PCP reiterou que só apresentará "uma moção de rejeição a um governo constituído pelo PSD e pelo CDS caso se apresente na Assembleia da República".
Lusa/SOL