2. Trata-se de uma campanha muito bem pensada, de acordo com as melhores regras do marketing. Qualquer português, com um mínimo de sentido de humor, elogiará a ousadia e a eficácia da mensagem publicitária da BTV. Ora, a mesma mensagem seria plenamente justificada se aplicada à conjuntura política portuguesa. Mais concretamente, alguém deveria aconselhar António Costa, e os seus (cada vez menos) apoiantes no PS, para não serem Inácio. De facto, o PS tem sido excessivamente Inácio na sua gestão política do pós- eleições legislativas – isto é, os socialistas não estão a conseguir analisar a situação política que vivemos e, mais grave, há um diferimento (delay) colossal entre os efeitos políticos estimados pelo PS de António Costa quanto à estratégia política que segue e os seus efeitos reais.
3. Prova-se, desta forma, mais uma vez, que António Costa é muito lento e pouco arguto na interpretação da realidade política. Costa continua a insistir nas rondas de negociações, quer à esquerda, quer à direita, pautadas pela sua invariável inconclusividade e pela espectacularidade mediática. Porquê? Esta atitude incompreensível de António Costa tem sido explicada pela sua necessidade de sobrevivência política, por um lado, e pela sua não vontade de regressar à advocacia, por outro. Quanto a nós, consideramos que essa é justificação íntima para a conduta do líder do PS: todavia, o problema político é mais vasto.
4. Na verdade, António Costa ainda está no dia 3 de outubro de 2015; parou no tempo e não quer viver o presente, muito menos antecipar e projectar o futuro. Costa acha que ainda se encontra em período de campanha eleitoral: a sua retórica é própria de quem está em eleições; a sua atitude irresponsável só é compreensível se estivesse a lutar pela vitória em acto eleitoral; o seu comportamento errático só faria sentido (se fizesse!) se estivesse em campanha, tentando mobilizar o eleitorado à sua esquerda e à sua direita.
5. Pior: António Costa reuniu-se com Passos Coelho e Paulo Portas para discutir eventuais arranjos de não confronto institucional, adoptando uma postura arrogante e inflexível como se tivesse ganho as eleições! Ora, o princípio democrático, e o respeito sagrado pela vontade dos portugueses, impõe que seja Passos Coelho e Paulo Portas a definir as linhas gerais da política a seguir nos próximos anos – devendo o PS apresentar contra-propostas, tentando obter cedências da coligação vencedora. Os portugueses expressaram, em termos claros, a sua vontade: querem ser governados pela coligação PSD/CDS, com a oposição responsável e lúcida do PS. E daqui a quatro anos, todos os agentes políticos, todas as forças partidárias serão avaliadas novamente pelos portugueses, pelos seus actos e omissões. Pelas suas motivações e…negociações.
6. Ao apresentar à coligação um conjunto de condições vastíssimo – praticamente o programa eleitoral do PS, na íntegra, que foi chumbado pela maioria dos portugueses – António Costa revelou que está a ser muito Inácio. Já todos sabemos os resultados eleitorais que deram uma vitória inequívoca à coligação de centro-direita: só António Costa é que ainda julga que está a lutar pela vitória. Parou no dia 3 de outubro: tal como acontece com Inácio quando assiste aos jogos de futebol, a ligação à internet de António Costa apresenta problemas graves de rapidez…O streaming está muito demorado: alguém, no Largo do Rato, tem de avisar o líder (até quando?) socialista de que perdeu as eleições! Não vale a pena continuar a prejudicar os portugueses apenas pelo poder que já perdeu…Há vida para além de um lugar na política, nosso caríssimo António Costa!