Segundo a Reuters, que noticiou a guerra de poder em curso, a Renault controla atualmente 43,4% da Nissan e tem mais poder na holding, com sede na Holanda, que agrega as duas empresas. Já a Nissan, apesar de representar sensivelmente dois terços das vendas e um lucro médio superior, tem apenas 15% da Renault.
Esta luta de bastidores envolve o governo francês e a gestão das empresas, mas principalmente o CEO Carlos Ghosn, um dos gestores mais bem pagos do mundo. Ghosn, de 61 anos, tem vindo a tratar cada vez mais a Nissan como ‘igual’ e a convencer a administração do grupo nesse sentido, procurando o equilíbrio de poder entre Renault e Nissan.
Já no Governo francês a preocupação passa por manter o controlo na parceria, garantindo fábricas, postos de trabalho e investimento no país. Recorde-se que em 1999, na altura da aliança – que foi sendo cada vez mais aprofundada nos últimos anos –, a Nissan estava praticamente falida e recuperou muito graças à ajuda francesa. No entanto, nunca voltou a ganhar autonomia e poder decisório, podendo a Renault até nomear os executivos de topo da Nissan.
Se Carlos Ghosn é um dos rostos da guerra, o outro é o ministro francês da Economia Emmanuel Macron, “um banqueiro do grupo Rothschild tornado ministro socialista”, segundo a Reuters. Macron, que já criticou publicamente o CEO da Renault-Nissan e o apoio que este recebe da administração, disse esta semana que apenas quer “manter o equilíbrio da aliança” e que a empresa “não seja desestabilizada por mudanças de governação e ajustamentos que levem a conflitos de interesse”.
Já em abril o ministro da Economia foi responsável por uma jogada que enfureceu Carlos Ghosn. Numa parceria tão marcada pelo peso francês, o ministro negociou o aumento da participação estatal de 15% para 19,7%, tendo informado Ghosn desse negócio “provisório” por telefone, apenas umas horas antes de a compra ser concluída.
Tudo para ter ainda mais direitos de voto nas reuniões seguintes e principalmente no próximo ano, em abril, quando os votos contarem a dobrar após a entrada em vigor de uma lei recente sobre os direitos de voto de acionistas mais antigos – conhecida como a Lei Florange.