Governo de Costa: BE e PCP de fora

Nos bastidores do PS ainda há conversas sobre a possibilidade de bloquistas e comunistas integrarem um governo liderado pelos socialistas. Uma hipótese cada vez mais remota. António Costa admitiu, a semana passada, numa reunião com os deputados socialistas, que o acordo seria só de incidência parlamentar e, ao que o SOL confirmou, BE e PCP…

As reuniões negociais entre PS, BE e PCP têm-se concentrado em questões técnicas, enquanto os termos políticos do acordo nunca estiveram em cima da mesa. Uma discussão feita ao mais alto nível com António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa. As maiores resistências partiram do PCP e o BE não quis ficar como único co-responsável no Governo com o PS, além da pressão interna da corrente UDP.

A discussão do programa do governo de Passos Coelho está marcada na Assembleia da República para os dias 9 e 10. As moções de rejeição dos partidos da esquerda terão que ser apresentadas nesta altura e aí o PS já terá que levar no bolso um acordo com BE e PCP, para poder derrubar o Governo sem entrar em “maiorias negativas”.

“Se não houver acordo até lá é um descrédito para Costa”, afirma ao SOL um deputado do PS. Os socialistas contam que o acordo seja apresentado em reunião da Comissão Política antes de ser anunciado publicamente. Segundo o presidente do PS, Carlos César, a apresentação do acordo estará “associada” à discussão do programa. O tempo urge, enquanto as negociações prosseguem com algumas pontas ainda soltas. Para já, o sigilo é enorme e as medidas acordadas entre os três partidos estão blindadas pela equipa negocial.

Assim que a moção ou moções de rejeição – PS, BE e PCP ainda não acordaram se haverá texto único – for aprovada no Parlamento, o Presidente da República terá que chamar novamente a Belém os partidos, um processo que demorou uma semana com Passos. Só depois disso é que poderá indigitar um novo primeiro-ministro. No PS ainda há quem tenha dúvidas sobre se Cavaco Silva dará posse a Costa.

Contando com essa hipótese, haverá depois os contactos do líder do PS para a formação de Governo. António Costa vai tentar encontrar personalidades independentes conotados com a ala esquerda, mais próximos do BE e PCP, para integrarem o governo. Trâmites que deverão atirar a tomada de posse para as últimas semanas de Novembro.

Oposição interna desmobilizada

Depois de um período inicial em que os críticos da solução de esquerda se manifestaram, a oposição interna desmobilizou e já não faz conta aos deputados que são necessários para frustrar, no Parlamento, as intenções de Costa.

O discurso duro de Cavaco, que apelou às divisões no partido para manter em funções o Governo de Passos, ajudou à união socialista. Nesta altura, os seguristas que antes se preparavam para se coordenar e votar ao lado do PS nas moções de rejeição ao programa do governo, tentando que não fossem aprovadas, já consideram que está tudo nas mãos do Presidente da República. “Nada depende de nós”, afirma um segurista.

Só mesmo a ausência de um acordo escrito de governo impedirá que António Costa venha a ser empossado por Cavaco Silva. O SOL sabe que o PR “não afastou no discurso nenhuma hipótese de governo”, antes terá querido “deixar para memória futura” a sua oposição a um governo de esquerda. Os termos do documento poderão fazer a diferença entre o ‘sim’ de Cavaco ou outro cenário, que para já parece pouco provável.

 *Com Manuel Agostinho Magalhães

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