Ora, por mais que se grite, a um país em défice permanente e que, em consequência, se endivida cada vez mais para tentar preservar minimamente as condições de vida e os direitos sociais que conseguiu alcançar, não se pode augurar um futuro risonho. Por isso, surpreende que das negociações entre os inesperados parceiros da futura coligação só venham boas notícias, multiplicando-se os pontos de acordo para reverter toda a austeridade, com o correspondente aumento da despesa pública em milhares de milhões. E sem que se conheçam medidas compensadoras do lado da receita, isto é, sem que perceba de onde virá o dinheiro.
Disse o Presidente da República, na muito contestada comunicação ao país sobre a indigitação de Passos Coelho, que tudo fará para «impedir que sejam transmitidos sinais errados às instituições financeiras, aos investidores e aos mercados, pondo em causa a confiança e a credibilidade externa do país que, com grande esforço, temos vindo a conquistar». Cavaco está receoso e partilha esse receio, como é sua obrigação, ainda que o faça de forma tosca e politicamente desastrada. Mas pior seria fingir que nada se passa, ou presumir que a liberdade de escolha existe realmente quando a dependência financeira é tão grande como a que se verifica com o nosso país.
Uma grande revista internacional, a Forbes, juntava esta semana o exemplo de Portugal ao da Grécia para demonstrar como as políticas de austeridade estão a matar a democracia na UE. Infelizmente, é isso que acontece: o medo mata a liberdade. Mas a verdade é que, na situação a que Portugal se deixou chegar, as queixas contra os mercados de pouco mais servirão do que para aliviar a bílis, caso os juros da dívida comecem a subir e vierem a descontrolar-se.