António Costa: a esquerda em alta ou um filme negro para o PS?

Como se vê, a democracia tem algumas escapatórias surpreendentes. Como são esta repentina aliança do PCP e do BE ao PS de António Costa e o Governo de esquerda que aí vem. Aqui chegados, restam duas perspetivas para o futuro próximo.

Acreditando que quase tudo irá correr pelo melhor, António Costa tranquilizará Belém com um acordo escrito (e não meramente oral) assinado pelo BE e PCP e assumirá ir cumprir em 2016 um défice abaixo dos 3% como estabelece o Tratado Orçamental da UE. O Governo de esquerda devolverá salários, sobretaxas e pensões aos portugueses mas encontrará forma de equilibrar esse acréscimo de despesa (com impostos para os mais ricos ou cortes no aparelho do Estado), os sindicatos evitarão greves e garantirão a paz social, o desemprego cairá, os juros nos mercados irão sossegar e voltarão a baixar, a economia alimentada pelo aumento do consumo fará subir o PIB e chegaremos ao OE para 2017 com a esquerda em alta e o país em bonança política. Entretanto, António Costa terá entrado para a história ao derrubar o muro da inutilidade governativa do PCP e BE e ao converter estes dois partidos da ex-esquerda radical às delícias do consenso europeu sobre as regras de estabilidade e crescimento.

Reconheçamos que é preciso ter muita fé para acreditar neste cenário otimista.

Optando por uma visão mais pessimista, a simples apresentação do Programa do Governo PS+PCP+BE e do subsequente Orçamento de esquerda para 2016 fará, desde logo, retrair a confiança e o dinamismo económico do mundo empresarial, baixar as exportações, desviar o investimento estrangeiro e as importações para paragens menos incertas, e fazer disparar nos mercados os juros para as obrigações e empréstimos portugueses. Se tudo isto se concretizar, então o endividamento do Estado tornar-se-á de novo galopante e o défice descontrolado. A conflitualidade social recrudescerá, a aliança de esquerda tenderá a ficar em cacos e, por alturas do OE para 2017, António Costa terá perdido os seus aliados de circunstância na AR.

No final deste filme negro, teremos um PS destroçado, reduzido a uma espécie de Pasok português e em risco de ser eleitoralmente suplantado por BE e PCP. Pior será difícil.

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