População não quer viver no centro do Porto

Numa altura em que decorre a III Semana da Reabilitação Urbana na Invicta, que terminou no sábado, o SOL faz uma análise sobre o mercado imobiliário e de reabilitação do Porto. A dinamização do centro histórico tem levado a um crescimento no valor desta zona da cidade. No entanto, o coração da Invicta está a…

Conhecedor do centro histórico do Porto, o arquiteto Paulo Moreira tem realizado vários projetos de reabilitação em edifícios antigos nesta zona da Invicta. Na sua opinião é possível reabilitar lá a preços acessíveis e, mais importante do que isso, garantir a identidade da cidade antiga, conferindo-lhe as necessidades atuais.

Contudo, o arquiteto revela que, em alguns projetos recentes de reabilitação de edifícios antigos, veem-se muitas soluções construtivas e espaciais desadequadas. Por serem amplamente utilizadas, vão-se tornando culturalmente aceites. Com isso, entende Paulo Moreira, vai-se perdendo uma parte significativa do património edificado. “Considero que para se reabilitar nas zonas históricas é fundamental perceber e aceitar as características tipológicas e as imperfeições construtivas”, sublinhou ao SOL.

Promotores ‘fogem’ do centro para escapar à burocracia

“O Porto vive um momento interessante, com alguma intensidade urbana e cultural. Sendo arquiteto e vivendo no centro da cidade, agrada-me a energia do dia-a-dia”, elogiou também o arquiteto, para logo de seguida passar ao ‘ataque’: “Estando envolvido em alguns projetos, tenho também críticas e sugestões a fazer. A recuperação desta zona poderia estar muito mais avançada se a apreciação de projetos e os processos burocráticos fossem simplificados”.

No seu círculo profissional, Paulo Moreira repara que alguns investidores e construtores estão a voltar-se para outras zonas da cidade, precisamente para escapar às exigências burocráticas no centro histórico.

Ao mesmo tempo, ao contrário do que seria natural, a população jovem adulta parece pouco interessada em habitar o coração do centro histórico, por causa do ruído dos bares e discotecas, por exemplo. “Obviamente que isso pode ser bom para outras áreas da cidade, que também precisam de ser cuidadas… Mas dá que pensar… Há mais incentivos para o turismo do que para fixar a população no centro”, alertou.

Paulo Moreira adianta que as instituições públicas e privadas com muitas propriedades devolutas no centro poderiam traçar uma estratégia para a sua reabilitação. Sugere a cedência temporária de edifícios, com condições vantajosas, a pessoas ou grupos que queira cuidar deles. “Evitava-se assim a ruína total e, claro, criar-se-iam oportunidades para arquitetos. Julgo que um programa desse género poderia interessar a muitos cidadãos com vontade de intervir na cidade, mas com falta de meios”, disse o arquiteto.

Números ainda não refletem esse desagrado

Entre o segundo semestre de 2014 e o primeiro de 2015, o Índice de Preços da Baixa do Porto (apurado pela Confidencial Imobiliário) teve uma subida de 11%, sendo o resultado mais elevado desde 2009. E desde esse ano a Baixa do Porto observa uma valorização acumulada de 65,1%. Só nos últimos 12 meses a subida foi de 21,5%, afirmando-se como o ciclo de maior crescimento em todo o período analisado.

O centro histórico do Porto recebeu uma média de 24 transações de prédios por mês, mantendo esse ritmo já desde o começo de 2014. Desde o ano passado as transações envolveram um investimento de mais de 137 milhões de euros.

Em linha com a evolução dos negócios, também o número de novas obras licenciadas tem vindo a crescer. A manter-se o ritmo do primeiro semestre, 2015 poderá afirmar-se como o ano mais relevante em termos de concretização de obras, com quase 100 novos projetos, incluindo obras de conservação, ampliação, alteração e reconstrução.

O lançamento de edificações tem evoluído muito favoravelmente nos últimos anos, mais do que quadruplicando face a 2012, num claro sinal da mobilização dos investidores.

“A reabilitação urbana encetada na Baixa e no Centro Histórico do Porto tornou possível a sua revitalização económica e social, de forma firme e sustentada, invertendo-se a trajetória de declínio que durante décadas desolou a área com maior relevância patrimonial da cidade”, referiu ao SOL Álvaro Santos, presidente da Porto Vivo – SRU. Lembrou também que essa zona da cidade “atingiu um ponto de atração irreversível e tem registado uma procura crescente por parte de investidores e promotores, muito suportados pelo mercado turístico, mas também – e cada vez mais – pelo segmento residencial”, refere Álvaro Santos, Presidente da Porto Vivo, SRU.

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