2. O nosso homem quer estatuto de Primeiro-Ministro! Pronto, cada um tem as suas ambições pessoais – o problema é que as ambições têm um custo muito elevado para todos e para cada um dos portugueses. Nós até já sugerimos que Cavaco Silva – fazendo, finalmente, alguma coisa de útil… – outorgasse a António Costa o título de Primeiro-Ministro honorífico para que este possa indicá-lo no currículo – e não estragasse a vida aos portugueses!
3. Efetivamente, esta história do acordo do PS com a extrema-esquerda é uma história muito mal contada. Todos nós sabemos que vai acabar muito mal – um dos três partidos (PS, PCP e BE) vai sofrer consequências nefastas, que podem redundar até no seu desaparecimento do sistema partidário português. Resta saber quem será o mais matreiro e quem será o mais ingénuo – o primeiro, irá retirar dividendos políticos do insucesso do Governo de extrema-esquerda; o segundo irá eclipsar-se da política portuguesa.
4. Os sinais são claros e não deixam dúvidas: iremos passar um período de enorme turbulência política nos próximos meses. O Governo liderado pelo novo elemento do Comité Central do PCP – António Costa – será desastroso. Senão, vejamos o que aconteceu desde sexta-feira até domingo.
5. Na sexta-feira, António Costa apresentou as linhas gerais dos acordos que estabeleceu com PCP e BE. Note-se: acordos. Ou seja, ao contrário do que alguns começaram a aventar no inicio da semana anterior, António Costa não conseguiu celebrar um acordo de Governo conjunto com PCP e BE – antes, celebrou um acordo autónomo com o PCP; outro acordo autónomo com BE. Já para não falar do acordo – ai, que situação tão ternurenta! – com o filho do PCP – o PEV. Ora, se eles se dão tão bem entre eles, por que razão não conseguiram chegar a um acordo comum?
6. Como nós antecipámos aqui no SOL, o acordo entre os três (mais os comunistas verdes) revelou-se impossível. Por uma razão simples: PCP e BE não querem saber da estabilidade política, nem querem saber o que é melhor ou pior para Portugal – querem apenas liquidar o PS. Conquistar espaço político aos socialistas (os ‘mencheviques’), sem, contudo, perderem as suas identidades próprias. Identidades que são incompatíveis com o programa do PS. Qual foi então o muro que António Costa derrubou? Nenhum. Quem derrubou o muro foi o PCP e o BE – levou o PS para o leste político, para a RDP – a República Democrática Portuguesa Comunista. O mérito é, pois, todo de Jerónimo de Sousa e Catarina Martins.
7.Por outro lado, ter dois acordos distintos com PCP e BE mostra que esta proto-coligação é mais folclore político – do que uma solução política séria. De facto, agora, sempre que o PS tiver de aprovar uma medida, ter-se-á de ver se essa medida consta quer do acordo celebrado com PCP, quer do acordo com o BE. E se não estiver incluído no acordo? E se estiver num – e não estiver no outro? E se o acordo se limitar às matérias que já foram avançadas pela comunicação social – essas medidas são suficientes para assegurar solução política duradoura – como prometem Jerónimo de Sousa e António Costa?
8.Por último, atentemos na entrevista que António Costa deu à SIC, na passada sexta-feira. Costa tentou explicar, perante a jornalista Ana Lourenço, que o acordo político com a extrema-esquerda é para durar, durar, durar – mas não conseguiu. Limitou-se a afirmar que cada partido mantém a sua identidade, comprometendo-se cada um a ceder para governar. Ora, qual é a identidade própria do PCP? Tudo o que o PCP defende – tirando medidas para distribuir algum dinheiro, como a diminuição do IVA da restauração ou o aumento do salário mínimo – não é incompatível com os compromissos do Estado Português? E o Bloco de Esquerda não é, ele próprio, por natureza, incompatível com o PCP?
9.Mais: a jornalista Ana Lourenço desmascarou António Costa com notável exatidão. Costa afirmou, para “picar” Francisco Assis, que jamais recusaria um acordo que desconhecia à partida. Pois bem, Ana Lourenço replicou, de imediato, que Costa está a fazer precisamente o mesmo: rejeita um programa de Governo que ainda não conhece! Fantástico! O líder do extremo-PS é um homem sem palavra.
10. Enfim, António Costa é hoje o António Troca. Na campanha, PCP e BE eram radicais e extremistas: agora, são os partidos mais democratas do mundo. Noutros tempos, da “Quadratura do Círculo”, o PS não poderia formar alianças com partidos que recusam a Europa – agora, já vale tudo porque ninguém pode ficar excluído da governação. Ai, o que um homem faz pelo poder! Mais: se PS, PCP e BE estão tão apaixonados politicamente, porque não apresentam uma moção de censura conjunta? É a doutrina do “separated, but equal”, separados, mas iguais?
11. Não se consegue – não se pode! – levar António Troca (perdão, Costa) a sério. É o verdadeiro e genuíno António, troca, baldroca!