Direita pressiona Marcelo

No PSD há cada vez mais gente irritada com Marcelo Rebelo de Sousa e isso nota-se. Nas últimas semanas, há até movimentações nos bastidores à volta da ideia de lançar um outro candidato de centro-direita, alguém que dê voz ao descontentamento com o “golpe de Estado” que PSD e CDS acham que está a ser…

Várias fontes do PSD ouvidas pelo SOL explicam porém que, pelo menos por agora, estas movimentações não se devem traduzir numa nova candidatura. O objetivo é outro: fazer com que Marcelo perceba que tem de modular o discurso.

‘Age como se a direita já estivesse no papo’

É que, enquanto Marcelo se encosta ao centro, cauteloso nas palavras em relação à solução de esquerda e crítico em relação à atuação de Cavaco, são cada vez mais os sociais-democratas e centristas descontentes. “Eu que já fui muito entusiasta do Marcelo, já não estou tão entusiasmado”, reconhece um dirigente do PSD, que se junta aos que acham que o professor está a agir “como se a direita já estivesse no papo”, preocupando-se mais em ir buscar votos ao centro-esquerda nesta pré-campanha.

“Percebe-se que tenha de fazer aquele discurso, mas está a ser desastrado”, comenta a mesma fonte, que defende que Rebelo de Sousa está a calcular mal o grau de descontentamento entre os eleitores da PàF, que estão indignados com o facto de Passos e Portas terem sido derrubados, apesar de terem tido mais votos nas urnas.

No PSD, há até quem recorde que Cavaco Silva fez também em 2006 um discurso de campanha ao centro que deixou descontentes os sociais-democratas. “Faz parte”, comenta o presidente de uma distrital, justificando o incómodo com a estratégia do candidato com “reações emocionais” normais nas hostes laranjas. “Essas coisas mudam muito. Se no passado havia quem achasse que o Cavaco não nos ajudava nada, a verdade é que depois do discurso em que anunciou a indigitação de Passos, as pessoas ficaram entusiasmadas”, observa a mesma fonte.

‘Laranjinhas’ a recolher assinaturas

A verdade é que cresce a impaciência com a estratégia eleitoral de Marcelo, que prefere posicionar-se ao centro e que já avisou que não olha para as presidenciais “como uma segunda volta das legislativas”.

Mas não é só o discurso do ex-comentador político que impacienta as hostes do centro-direita. No PSD, estranha-se que Marcelo esteja a fazer campanha sem avisar as estruturas do partido e sem beneficiar da sua organização, optando por agir de forma completamente independente. “Não quer comissão de honra, diz que paga a campanha do bolso e está a fazer tudo sozinho. Mas quando estiver na reta final vai precisar da máquina do partido para cobrir o país de norte a sul”, avisa um deputado social-democrata.

Marcelo Rebelo de Sousa tem, de resto, dado vários sinais de que se sente mais confortável sem o apoio formal de PSD e CDS. Mas também é notório no terreno que quem está a trabalhar na recolha de assinaturas para a candidatura são sobretudo militantes sociais-democratas. “Está tudo a ser feito a título individual, sem as estruturas, mas por militantes”, reconhece um líder distrital.

Esta aparente contradição revela a condição dúplice da relação atual entre o partido e a candidatura. “Mesmo que haja gente descontente, a verdade é que, neste momento, precisamos mais do que nunca de uma vitória e Marcelo pode dar essa vitória a Passos. Mesmo que agora Marcelo apareça como independente, Passos saberá capitalizar essa vitória”, analisa um membro do antigo Governo da coligação.

Nessa lógica, os rumores sobre o surgimento de outra candidatura na área do centro-direita são uma arma de pressão política, mas para já não devem mesmo ir muito além disso. “Parece-me que são rumores sem fundamento”, afirma um vice-presidente de Passos Coelho.

“A avançar alguém teria de ser um dos que já disseram que não iam, Rui Rio ou Santana Lopes”, diz outro membro da direção do PSD, admitindo que para “Santana seria mais fácil voltar atrás e avançar”, mas ressalvando que essa hipótese ainda é remota e que tudo vai depender muito do que acontecer nas próximas semanas. Por um lado, sociais-democratas e centristas querem ver se Marcelo começa a inflectir o discurso e a ser mais claro na defesa do centro-direita, por outro o tema das presidenciais ficará em segundo plano enquanto não for clara a solução governativa que sairá a da atual crise política.

margarida.davim@sol.pt