António Costa

Está prestes a levar a água ao seu moinho, contra ventos e marés. Conseguiu negociar com o PCP e o BE o derrube do Governo de Passos Coelho e o apoio mínimo (mesmo que conjuntural e periclitante) para que o Governo PS entre em funções – uma habilidade negocial ao alcance de poucos. Pode dizer-se que subverteu o resultado eleitoral, que encenou uma farsa de negociação com PSD e CDS, que cedeu à visão estatista e despesista do BE e do PCP. Mas, para já, chegou onde queria.

Arménio Carlos

Foi, em grande parte, para defender a força reivindicativa e a influência social do seu braço sindical, a CGTP, que o PCP aceitou a negociação com António Costa. E o líder da CGTP é um dos grandes vencedores do programa deste Governo de esquerda: vê travado o processo de concessão e privatização dos transportes (seu mais forte bastião sindical), ainda que o PS ameace não reverter alguns casos, vê acabar a prazo o regime de mobilidade da Função Pública, vê cair a proposta do despedimento conciliatório e os bloqueios à contratação coletiva, vê o regresso do horário de 35 horas e o aumento do salário mínimo, etc., etc. Tem boas e múltiplas razões para celebrar.

Sombra:

Mário Centeno

O apelidado cérebro do programa macroeconómico de António Costa, que tem a imagem de um moderado, fez uma intervenção descabeladamente radical e de baixo nível político no Parlamento – talvez pela necessidade de fazer prova de vida de esquerda às acaloradas bancadas parlamentares. Nas entrevistas que dá, é redondo e evasivo no que respeita a números concretos de receitas e despesas ou quanto a mexidas nos impostos – mas crente em excesso nos cenários de crescimento económico. Não tranquiliza nem transmite a confiança necessária.

Passos Coelho

Conseguiu ganhar as eleições, ao contrário de quase todos os líderes europeus que as perderam depois de terem que aplicar medidas de austeridade. Resistiu, pôs o país a recuperar e, mesmo perdendo a maioria absoluta, triunfou claramente nas legislativas. Mas acabou por ser o primeiro chefe de Governo eleitoralmente vitorioso a ser derrubado na AR. Passa à oposição com uma imagem política respeitada e reforçada por este episódio. Com a perspetiva de voltar em próximas eleições.