Os suspeitos do costume

François Hollande foi assertivo na distinção entre refugiados e terroristas, afirmando que os primeiros são vítimas, não carrascos: “São martirizados por aqueles que nos atacam”, sublinhou o chefe do Estado gaulês após os ataques de sexta-feira, dia 13. Idêntica explicação deu Jean-Claude Juncker. O presidente da Comissão Europeia refutou “reações primárias” e fez o desenho:…

Informações sobre um passaporte sírio encontrado junto a um bombista suicida no Estádio de França agitaram bandeiras de intolerância – apesar de as autoridades francesas duvidarem da autenticidade do documento em nome de Ahmad Mohamad, que pode ter sido forjado ou roubado. Ainda, assim, Paris revelou “quão grande é o erro de tentar estabelecer uma vasta comunidade imigrante muçulmana na Polónia”, troou o ministro da Defesa daquele país, Antoni Macierewicz.

Marine Le Pen, líder da Frente Nacional francesa, e o colega Geert Wilders da extrema-direita holandesa exigem que Paris e Haia retomem o controlo das fronteiras nacionais e acabem com a imigração, que associam à radicalização islâmica.

Também rápido nas conclusões, o primeiro-ministro eslovaco – que vai tentar reeleição em março – Robert Fico, um dos mais ativos no coro anti-refugiados do bloco de leste, respondeu assim aos atentados: “Estamos a monitorizar cada muçulmano presente no nosso território”. A Bratislava cabe a quota de 802 refugiados, mas Fico tem batido o pé, discriminando na escolha: só quer refugiados cristãos.

Opção idêntica querem ter os republicanos dos EUA, prontos a abortar um programa de Barack Obama para receber refugiados sírios. O PR, numa cimeira nas Filipinas, criticou a retórica dos adversários políticos, que querem sujeitar os refugiados a testes religiosos para lhes confirmar a cristandade: “Isso é ofensivo”, disparou Obama, que também ridicularizou quem quer tomar decisões baseando-se “na histeria e no exagerar dos riscos” – algo que só favorece a estratégia dos extremistas.

Do lado de cá do Atlântico, a União Europeia enfrenta mais um obstáculo ao plano de acolhimento de refugiados. Mais de 700 mil pessoas já entraram na Europa entre janeiro e outubro de 2015 e a distribuição de apenas 120 mil entre os 28 Estados-membros tarda – e não colhe consensos.

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