Aos 47 anos, Caldeira Cabral chega ao ministério da Horta Seca com polémicas pastas à sua espera, como a decisão de reverter ou não a privatização da TAP e a eventual revogação das subconcessões dos transportes públicos – duas das bandeiras do governo de esquerda.
O novo ministro da Economia é um independente. Aproximou-se do PS ainda na era de António José Seguro, mas a relação aprofundou-se já com António Costa. Chegou a colaborar com o executivo de José Sócrates. É economista, professor e consultor do Banco Mundial. Começou a vida profissional como jornalista.
Pelas mãos do secretário-geral do PS, "indicado" esta terça-feira como primeiro-ministro, Caldeira Cabral foi cabeça de lista por Braga. O novo ministro da Economia foi um dos 12 especialistas a desenhar o programa macroeconómico do PS – Uma década para Portugal.
Ministro com vontade de “mudar”
Caldeira Cabral é um defensor da "mudança". Na sua página oficial de Facebook, Caldeira Cabral defendia, dois dias antes das eleições legislativas, o slogan da candidatura de António Costa – "Alternativa de Confiança".
Apelava a um "basta" à política de Passos Coelho e Paulo Portas.
"O PS apresentou um programa de mudança, que aposta no crescimento, no emprego e no combate à precariedade. Que aposta na valorização da ciência e do conhecimento. Um programa moderado e responsável, que garante a todos os portugueses uma oportunidade em Portugal", escrevia.
“Para o país mudar, o Partido Socialista tem de ganhar”, rematava.
Com António José Seguro, Caldeira Cabral dirigiu um grupo de aconselhamento sobre o Quadro Comunitário de Apoio e os fundos comunitários.
Colaboração no executivo de Sócrates
À Revista 2 do Público, Caldeira Cabral recordou que, nos governos de José Sócrates, trabalhou "com Manuel Pinho e com Teixeira dos Santos nas Finanças", fez "estudos para os dois" e acompanhou "o trabalho por dentro", pelo que garantia: "É diferente fazê-lo na oposição."
Para caracterizar o trabalho desenvolvido com António José Seguro realçam as expressões: “sem espartilhos” e “com autonomia”.
"Sinto da parte do secretário-geral do PS abertura para eu tratar as coisas sem espartilhos e com autonomia", afirmou ao Público. "Para preparar a negociação dos fundos comunitários, eu próprio arranjei uma equipa de 15 pessoas, algumas são recomendadas por Seguro, outros são especialistas de várias áreas".
Do jornalismo para a Economia
Caldeira Cabral tem um currículo académico e profissional ligado à Economia, mas a sua primeira experiência no mercado laboral foi desenvolvida no jornalismo.
Trabalhou como jornalista em dois jornais nacionais de referência da área económica – Semanário Económico e Diário Económico, entre 1988 e 1991.
Antes de beneficiar de uma bolsa de estudo para o Mestrado em Economia Aplicada (Universidade Nova de Lisboa), financiada pelo estado Português (JNICT) e pela União Europeia, ainda trabalhou como assessor na Associação Portuguesa de Seguradores entre 1991 e 1992.
Licenciado em Economia pela Universidade Nova de Lisboa, com a classificação final de 14 valores, o cabeça de lista por Braga concluiu com 17 valores um mestrado em Economia Aplicada também pela Universidade Nova de Lisboa em 1996. Ainda nos graus académicos, Caldeira Cabral é Doctor of Philosophy in Economics (PhD) pela Universidade de Nottingham.
De 1996 a 2001, o agora ministro da Economia do governo de António Costa trabalhou como investigador em tempo integral no Departamento de Economia da Universidade de Nottingham como estudante de Doutoramento.
Foi assistente do Departamento de Economia da Universidade do Minho, onde lecionou disciplinas de Economia Internacional, Economia Europeia, Políticas Económicas da União Europeia, Estatística e Inovação e Transferência de Tecnologia às licenciaturas de Economia, Relações Internacionais, Gestão e Negócios Internacionais.
De março a maio de 2004 e de maio a agosto de 2007, foi professor na Universidade Nacional de Timor Lorosae (Timor Leste).
No passado mais recente, Caldeira Cabral foi professor Auxiliar no Departamento de Economia da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho.
Salário mínimo a 530 euros? Não em 2016
Caldeira Cabral defendeu o aumento do salário mínimo nacional (SMN), numa entrevista recente à Antena 1/Económico.
O economista considerou ser possível aumentar o SMN para 530 euros, mas tal “não significa que seja a 01 de janeiro". Recorde-se que esta é uma das medidas propostas pelos socialistas, que se compromete a aumentar o salário mínimo nacional progressivamente de forma a atingir os 600 euros em 2019.
O economista acredita que um Governo PS, apenas com apoio parlamentar do BE e do PCP, "é suficiente para os investidores estrangeiros confiarem em Portugal", porque "os investidores sabem que o PS tem políticas macroeconómicas estáveis".
Para Caldeira Cabral, a eventual reversão das privatizações nos transportes também não vai assustar os investidores.
Defensor do crescimento a longo prazo
Em maio deste ano, numa opinião assinada no SOL, Caldeira Cabral defendia que “hoje é bastante claro que só uma conjugação simultânea de medidas de estímulo à oferta e à procura pode resultar na desejável aceleração da retoma”.
Para o economista, “é necessário que a política nacional reforce as instituições e os mecanismos de coordenação que permitam às empresas portuguesas aproveitar os apoios europeus e os usem para a necessária reestruturação do tecido empresarial português”.