O processo foi desencadeado pela sondagem que há 15 dias colocava Maria de Belém numa segunda volta com Marcelo Rebelo de Sousa. Esse estudo de opinião, feito pela Eurosondagem e publicada no Expresso, mostrava que a segunda volta das eleições era uma possibilidade real, ao atribuir a Marcelo ‘apenas’ 48% das intenções de voto. E ficava também patente a fraqueza de Nóvoa: “Sem o apoio do PCP e do BE, deixa em aberto a possibilidade de ser Maria de Belém a passar à segunda volta”, diz um elemento da candidatura. A socialista tem 18,9% das preferências nessa sondagem, contra os 16,7% de Nóvoa.
A tentativa da extrema-esquerda
Para, já os únicos partidos que declararam apoio a Nóvoa não têm sequer assento parlamentar – o Partido Livre e o MRPP. Se bem que o PS tenha reforçado desde as eleições legislativas o número de dirigentes a apoiar a candidatura, não haverá posição oficial. E percebe-se que António Costa convive bem com uma vitória de Marcelo Rebelo de Sousa. “O único cenário mau é uma vitória de Maria de Belém”, diz um dirigente socialista.
A tentativa de juntar o PCP e o BE a uma candidatura ‘frentista’ nas presidenciais foi discreta. Apenas a extrema-esquerda se mostrou. Gil Garcia e o seu Movimento Alternativa Socialista (que nas legislativas fez parte da coligação que tinha como primeira figura Joana Amaral Dias) elaboraram uma carta aberta “Por um candidato presidencial único à esquerda”.
A missiva exclui Maria de Belém. “Apelamos aos únicos candidatos que podem dar corpo a este desafio – Sampaio da Nóvoa, Marisa Matias e Edgar Silva – que cheguem a acordo para convocar um grande encontro das esquerdas para tomar esta decisão”, explicita o texto do MAS.
Sampaio da Nóvoa não respondeu diretamente. Mas numa ação de campanha, esta semana, no Barreiro, deixou uma mensagem: no “momento certo” será necessária a convergência dos candidatos de esquerda para conseguir derrotar o rosto “da continuidade” (Marcelo, claro está).
“Não vejo com maus olhos a existência de vários candidatos no espaço político da esquerda, têm projetos diferentes e é legítimo que se queiram apresentar. Mas espero também que percebam a necessidade de uma convergência, porque o pior que nos podia acontecer é as pessoas votarem no candidato da continuidade”, afirmou Nóvoa. Ficou em aberto se o momento certo dessa união seria a primeira volta. E, ao SOL, fonte da candidatura de Nóvoa, garantiu que “a convergência de candidaturas, com desistências na primeira volta, não foi até agora assunto” que merecesse apreciação.
Marisa ‘vai até ao fim’
O desafio da convergência teve também negativas na esquerda. “Vou até ao fim”, garante Marisa Matias. E na sua candidatura há quem devolva a ideia de desistência: “Há três candidatos na área do PS, espanta que não falem da possibilidade de entendimento entre eles”.
Os comunistas também rejeitam que esteja em curso a ponderação da desistência de Edgar Silva. “Isso não está em causa”, diz fonte comunista.
Na candidatura de Maria de Belém, que seria prejudicada pela frente em torno de Nóvoa, há quem confie na “falta de tradição do PCP em desistir”, quando não está em causa “um apoio formal a um candidato de outro partido” – o que aconteceu com Salgado Zenha em 1986. Ou, noutro cenário, quando não está em causa a vitória da esquerda na primeira volta.
Por parte dos que se envolveram na tentativa gorada de que Marisa Matias e Edgar Silva atirassem a toalha ao chão, o jogo não é dado por perdido. “Ainda há tempo para voltar a tentar”, diz um apoiante de Nóvoa. Quanto às garantias de Marisa e de Edgar de que vão mesmo às urnas, são relativizadas. “Só faz sentido admitirem a desistência quando essa possibilidade estiver iminente”, diz a mesma fonte.