Marcelo, como candidato, tem um discurso que valoriza o Conselho de Estado, prometendo que ouvirá este órgão de consulta política três ou quatro vezes por ano (quadruplicando a média de Cavaco Silva). Sobre as suas escolhas, diz apenas que tomará “em consideração a composição pré-existente do Conselho de Estado”.
Porém, não será arriscado prever que Leonor Beleza, uma das conselheiras de Estado de Cavaco Silva, continuará a fazer parte da quota presidencial. “É uma grande amiga de Marcelo, é um nome óbvio e é seguro que será sua conselheira”, prognostica um companheiro de partido do candidato. A confirmar-se a escolha da atual presidente da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza poderá totalizar vinte anos no cargo.
Dado como certo é, também, o nome de Marques Mendes, muito próximo de Marcelo, que agora saiu do Conselho onde estava na quota do PSD.
Bem menos óbvio é o nome de António Guterres. O ex-primeiro-ministro socialista e hoje responsável na ONU pelos refugiados é, porém, próximo de Marcelo. No discurso do professor sobre os equilíbrios necessários no Conselho de Estado, “Guterres daria um sinal de abertura”, diz ao SOL um apoiante do candidato que é apoiado (ou melhor “recomendado”) pelo PSD e CDS.
A abertura de Marcelo passará também por trazer setores não políticos para o Conselho de Estado. A representação da igreja católica e a proximidade com o padre Vítor Melícias faz deste franciscano um nome provável para conselheiro. A alternativa é outro sacerdote amigo de Marcelo, o padre Feytor Pinto.
Maria de Belém é a candidata preferida de uma parte do aparelho do PS, desde logo de uma ala guterrista, tendo vários ex-ministros de Guterres entre os seus apoiantes. E o próprio António Guterres é esperado como apoiante, qual D. Sebastião, na ponta final da campanha. Se a ex-ministra da Saúde chegar à segunda volta e bater Marcelo, o nome de Guterres “é um dos que não vão faltar no seu Conselho de Estado”, diz um membro da candidatura.
Mais óbvio que Guterres, porém, é Alegre. O ex-candidato a PR, em 2006 e 2011, que teve Maria de Belém como mandatária, é mesmo o único conselheiro certo da socialista. “Poder ter a certeza que Manuel Alegre será meu conselheiro de Estado”, respondeu esta semana Maria de Belém a um jornalista. Alegre, mandatário nacional e principal orador no jantar, tinha sido desconsiderado por António Costa. Nesse dia, soube-se que o líder do PS o havia desconvidado para permanecer na quota do PS da lista de conselheiros eleitos pelo Parlamento. Conclusão: com Maria de Belém, Alegre só ficará três meses fora do Conselho de Estado.
Maria de Belém pode ter outro ex-secretário-geral do PS a aconselhá-la. “António José Seguro é um dos impulsionadores da candidatura, embora agora pareça ser incómodo”, diz um segurista. Seguro talvez não apareça até ao final da campanha de Belém, que tem tentado sacudir a imagem de candidata da fação segurista.
Dois ministros de Guterres completam o naipe de conselheiros prováveis: Alberto Martins e Vera Jardim. Ambos integram o grupo político mais estrito de Maria de Belém.
Em comum com Marcelo, o candidato Sampaio da Nóvoa, caso seja eleito Presidente, quer “compensar eventuais subrepresentações que possa haver, no plano político, social e cultural”. Uma formulação alargada de equilíbrios que indica a vontade, também, de ter um Conselho de Estado não exclusivamente político.
Nóvoa já tem núcleo de senadores em Belém
Em boa verdade, o ex-reitor já tem como conselheiros três políticos. Os ex-Presidentes Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio, que fortaleceram o lançamento da sua candidatura, continuarão a ter assento no Conselho, por inerência de terem exercido as funções presidenciais.
Há ainda outra figura política próxima, Carlos César, que vai estar a partir da próxima semana no Conselho de Estado, por escolha do PS. De outro modo, Nóvoa poderia incluí-lo na sua quota: afinal, César é o mais entusiasta dos seus apoiantes socialistas e uma peça-chave na ligação do PS ao lançamento do ex-reitor na corrida presidencial.
Sampaio da Nóvoa escolherá ainda assim, e como é óbvio, cinco conselheiros, e um deles pode ser Carvalho da Silva, o ex-líder da CGTP e ex-militante do PCP que continua a ser uma referência no sindicalismo português.
Carvalho da Silva podia ter avançado, ele próprio, para Belém, mas ficou sem qualquer margem para concorrer depois de Nóvoa lhe ter tirado espaço nos apoios à esquerda. Juntou-se à candidatura do ex-reitor e a sua escolha como conselheiro abriria o leque de representatividade da esquerda.
O ex-conselheiro da revolução Vasco Lourenço é outra figura que está na génese de aventura presidencial de Nóvoa. A Associação 25 de abril organizou a federação de vozes de esquerda que deu protagonismo político ao ex-reitor. E, no início deste ano, o Congresso da Cidadania aproximou o PS e Nóvoa. Por tudo isto, não falta quem considere que Vasco Lourenço será um conselheiro natural em Belém em caso de vitória do ex-reitor.
Noutra área política está Jorge Miranda, que foi deputado constituinte eleito pelo PSD e considerado o principal legislador da Lei Fundamental de 1976. É apoiante de Nóvoa e, como conselheiro, daria equilíbrio ao leque de tendências do Conselho de Estado.
Desde o primeiro discurso como candidato presidencial, Nóvoa enalteceu a sua paixão pela cultura portuguesa. Neste quadro, uma figura de referência, o filósofo Eduardo Lourenço, poderá também ter lugar entre os conselheiros. Apesar de o autor de O Labirinto da Saudade já ter 92 anos (ainda assim, é mais novo que Adriano Moreira).