PSD viabiliza retificativo, mas decisão não foi pacífica

Banif está a deixar PSD nervoso. Direção de Passos não gostou das declarações de Maria Luís à TVI.

PSD viabiliza   retificativo, mas decisão não foi pacífica

O PSD vai viabilizar o Orçamento retificativo apresentado por António Costa para acomodar a despesa da resolução do Banif. A decisão foi tomada por Pedro Passos Coelho, mas não é pacífica dentro do PSD, onde há divisões sobre a estratégia a seguir, muito nervosismo e irritação com a forma como o caso foi gerido por Maria Luís Albuquerque.

“As declarações de Maria Luís na entrevista à TVI estão longe de terem sido felizes”, critica um membro da direção de Passos, onde não caiu bem a forma “atabalhoada” como a ex-ministra das Finanças tentou explicar o caso e levantou dúvidas sobre a solução encontrada pelo governo de Costa.

Maria Luís Albuquerque e Passos Coelho estão longe de estar sintonizados neste caso, como também não o estiveram aquando da recondução de Carlos Costa no cargo de governador do Banco de Portugal. Na altura, Passos queria Costa, Maria Luís tinha preferido outro nome.

Opiniões divergentes Ontem de manhã, Passos veio admitir que “não teria uma solução muito diferente” da que António Costa encontrou para o Banif. Na noite anterior, Maria Luís tinha dito à TVI esperar por informação mais detalhada para avaliar se a decisão de Costa e Centeno teria sido a mais adequada, ao mesmo tempo que se dizia “surpreendida com os montantes” dos custos para os contribuintes.

Mesmo que sejam vários os sociais-democratas descontentes com as declarações e explicações da ex-ministra, a verdade é que Maria Luís não é a única com dúvidas sobre o tema.

A posição a tomar sobre o Banif está longe de ser unânime. E, ontem, na bancada do PSD ainda havia deputados que resistiam à ideia de viabilizar o retificativo. “É mais uma fatura para os contribuintes. Começa a ser difícil explicar isto às pessoas”, dizia ao i um deputado. E havia outros com dúvidas sobre como deveria votar o PSD.

Mais consensual é a análise sobre os efeitos políticos do caso Banif para o partido. “Isto é muito complicado” foi uma das frases mais ouvidas ontem no Parlamento sobre o impacto que a resolução do banco terá no PSD.

Para Passos, a estratégia é, contudo, a de se apresentar como um líder responsável, viabilizando o retificativo. As dúvidas sobre os valores envolvidos expressas pelo CDS logo na segunda-feira não são seguidas oficialmente pelo PSD. “A coligação acabou”, comenta um vice-presidente social-democrata.

BE pondera ‘chumbo’ Na votação do retificativo que hoje vai ter lugar no Parlamento, é certo que o governo contará com o voto contra do PCP e do PEV ­– ontem anunciados. Mas também o BE pode juntar-se a este grupo, no que seria o primeiro chumbo em bloco dos partidos que suportam António Costa. “Caso o PS não satisfaça as duas condições do Bloco, essa é uma possibilidade”, dizia ontem ao final da tarde ao i uma fonte parlamentar bloquista.

O Bloco colocou como condições a mudança do modelo de intervenção bancária, retirando poderes ao Banco de Portugal, e – condição bem mais dura – a manutenção do Novo Banco na esfera pública.

As exigências saíram de uma reunião da Comissão Política do BE. De manhã, Catarina Martins dizia aos jornalistas que “o sacrifício dos contribuintes tem que terminar agora”, porque “haverá sempre outros bancos para exigir o mesmo cheque em branco”.

A líder do BE não esclareceu as consequência de um ‘não’. “O Bloco de Esquerda discutirá o Orçamento Retificativo considerando as respostas a estas duas questões”, limitou-se a dizer.

Esperava-se que a audição do ministro Mário Centeno na Comissão de Economia e Finanças pudesse dar pistas para a contrapartida do PS. Mas, questionado por Mariana Mortágua, o ministro foi evasivo. Centeno apenas mostrou abertura para uma “reflexão alargada”, sobre o modelo de intervenção bancária.

Resta saber a ponderação que o Bloco fará se o PS recusar manter o Novo Banco na esfera pública. Mariana Mortágua deixou, no entanto, elementos para o BE optar pela abstenção, sem o partido perder a face, ao atribuir à União Europeia a culpa por impedir a fusão do Banif com a CGD – a solução que BE e PS_preferiam para o banco intervencionado.

margarida.davim@ionline.pt  com Manuel Agostinho Magalhães