Para trás ficava uma campanha feita de gafes (com cartazes de falsos desempregados) e ‘inconseguimentos’ (pouca empatia na rua, a dúvida instalada sobre o cenário macroeconómico de Mário Centeno), preparando-se a oposição interna para pedir a sua cabeça no Hotel Altis. Afinal, tinha sido Costa que afastara o anterior líder socialista, Seguro, após um resultado nas eleições europeias que lhe soube a «poucochinho». A vitória magra de Seguro era ainda assim uma vitória, os seguristas não lhe perdoavam a derrota. Mas havia outro ex-secretário-geral do PS a assombrar António Costa.
A prisão de José Sócrates arrastou durante todo o ano de 2015 o PS para baixo, ainda que o atual secretário-geral tenha gerido tudo bem neste dossiê político-judicial. Costa proclamara como diretiva para os militantes a separação entre a política e a justiça (o processo contra Sócrates). E tinha feito uma única (e fria) visita à prisão de Évora. Nada mais havia a fazer. Contudo, a romaria constante para ver o recluso 44, e depois o corrupio diário a casa de Sócrates, nunca deixaram cair no oblívio mediático as suspeitas de corrupção sobre o anterior primeiro-ministro do PS – de quem Costa fora número 2.
Voltando à noite de 4 de Outubro. O líder do PS disse aos socialistas que não ia embora e conseguiu tempo para negociar. Deu logo preferência à esquerda. Parecia bluff mas o impossível aconteceu: o PCP deu o primeiro passo e com o BE e PEV assinaram-se acordos que suportavam o governo minoritário do PS, ‘expulsando’ Passos Coelho da cadeira do poder. Costa, 34 dias depois das eleições, tomava posse como primeiro-ministro. Omuro no sistema político português tinha caído, a realidade ia além da ficção da série televisiva Borgen.
Costa provou neste processo os seus dotes de negociador e vai continuar a precisar deles. O próximo ano será de desafio à «geringonça» (o nome que Paulo Portas colou à união das esquerdas). À laia de aviso, PCP e BE terminam 2015 a faltarem duas vezes com o apoio ao PS.