Lembra-se da primeira vez que veio a Lisboa?
Não. Era muito pequenito. Tinha cá as minhas tias. Íamos à Baixa, aos armazéns do Chiado e à Tofa, às lojas onde as tias iam – e eu ia atrás.
E achava Lisboa muito diferente do Porto?
Era estrangeiro, basicamente. Falavam português, mas era estrangeiro. E tinha uma coisa extraordinária que era o Jardim Zoológico. Gostava muito do Jardim Zoológico e quando vim para Lisboa, em 80, para gravar o disco, parecia-me tudo ao pé do Jardim Zoológico.
Isso é quando vem com 20 e poucos anos.
Sim, 22.
O que veio fazer para Lisboa que não podia ser feito no Porto?
Vinha gravar um disco.
E não havia condições no Porto para isso?
Não, não havia editoras nem nada. Ainda hoje Lisboa é que manda e o resto é paisagem, quanto mais na altura – oh oh.
E agora por que não fez o estúdio no Porto?
Atenção que eu tenho cá três filhos. Gosto de estar perto deles e se for para o Porto fico mais longe. Depois não me vão visitar, têm a vida deles. Provavelmente vai chegar a altura de começar a pensar em voltar para o Porto.
Quando vem para Lisboa adapta-se bem?
22 anos. Saí da zona de conforto, não conhecia ninguém. É complicado.
Já se conciliou mais com Lisboa ou continua a ser estrangeiro?
Eu gosto de Lisboa, é uma cidade fixe. Só que representa ainda um centralismo bacoco e bolorento que já não devia existir. Não tem nada a ver com pessoas genuínas de Lisboa, tem mais a ver com estas nossas elites. Pensei que se fosse esbatendo, mas não, há um favorecimento a esta região que não percebo ainda, e não me parece que isto seja só birrinha de pessoas do litoral, do interior, do norte e do sul.