Rui Veloso. “Lisboa é uma cidade fixe, mas representa um centralismo bacoco e bolorento”

eu o primeiro concerto há 35 anos. “Em Lagos, 18 de Dezembro de 1980. Havia uns estrangeiros e eu estava para lá no meio”. Agora acaba de editar um álbum duplo comemorativo dos 35 anos de carreira. “O Melhor de Rui Veloso” serviu de pretexto para uma conversa no estúdio que construiu ao longo dos…

Lembra-se da primeira vez que veio a Lisboa?

Não. Era muito pequenito. Tinha cá as minhas tias. Íamos à Baixa, aos armazéns do Chiado e à Tofa, às lojas onde as tias iam – e eu ia atrás.

E achava Lisboa muito diferente do Porto?

Era estrangeiro, basicamente. Falavam português, mas era estrangeiro. E tinha uma coisa extraordinária que era o Jardim Zoológico. Gostava muito do Jardim Zoológico e quando vim para Lisboa, em 80, para gravar o disco, parecia-me tudo ao pé do Jardim Zoológico.

Isso é quando vem com 20 e poucos anos.

Sim, 22.

O que veio fazer para Lisboa que não podia ser feito no Porto?

Vinha gravar um disco.

E não havia condições no Porto para isso?

Não, não havia editoras nem nada. Ainda hoje Lisboa é que manda e o resto é paisagem, quanto mais na altura – oh oh.

E agora por que não fez o estúdio no Porto?

Atenção que eu tenho cá três filhos. Gosto de estar perto deles e se for para o Porto fico mais longe. Depois não me vão visitar, têm a vida deles. Provavelmente vai chegar a altura de começar a pensar em voltar para o Porto.

Quando vem para Lisboa adapta-se bem?

22 anos. Saí da zona de conforto, não conhecia ninguém. É complicado.

Já se conciliou mais com Lisboa ou continua a ser estrangeiro?

Eu gosto de Lisboa, é uma cidade fixe. Só que representa ainda um centralismo bacoco e bolorento que já não devia existir. Não tem nada a ver com pessoas genuínas de Lisboa, tem mais a ver com estas nossas elites. Pensei que se fosse esbatendo, mas não, há um favorecimento a esta região que não percebo ainda, e não me parece que isto seja só birrinha de pessoas do litoral, do interior, do norte e do sul.