Marcelo afinal faz três comícios

As campanhas de Marcelo e Nóvoa acabam em Braga, num verdadeiro dérbi presidencial. Rebelo de Sousa fará um grande evento, mas não lhe chama comício. Nóvoa quer proximidade.

Oficialmente, a campanha de Marcelo Rebelo de Sousa não quer sequer ouvir falar em comícios. Mas a verdade é que o encerramento está a ser planeado num auditório em Braga com capacidade para 1.200 pessoas e o SOL sabe que estão também a ser programados eventos grandes em Lisboa e Porto.

Em Braga a candidatura está a pensar montar uma sessão, no último dia de campanha, no auditório do Parque de Exposições, por onde Passos e Portas também passaram nas legislativas e onde houve uma das maiores enchentes da campanha da PàF.

Curiosamente, Sampaio da Nóvoa está também a programar encerrar a campanha na cidade de Braga. Na prática, haverá quase um ‘derby’ presidencial com os dois candidatos que aparecem à frente na maioria das sondagens. Braga não foi escolhida por acaso: é o distrito de Celorico de Basto, a terra da avó Joaquina de Marcelo, e a capital da região do minhoto Nóvoa. «Todo o meu corpo é Minho», disse já o antigo reitor nesta campanha.

Tradicionalmente, este tipo de eventos conta com forte apoio das estruturas partidárias locais, mas o presidente da distrital de Braga do PSD, José Manuel Fernandes garante que não foi envolvido em qualquer organização. «Estou convencido de que as pessoas se mobilizam naturalmente. Ele vem aqui muitas vezes», diz ao SOL.

Comícios são tabu

Apesar dos eventos que estão a ser preparados, a candidatura de Marcelo prefere não usar a palavra ‘comício’. «Os comícios estão fora de questão», assegura fonte oficial da candidatura, que diz que haverá apenas «pequenas sessões públicas de esclarecimento».

De facto, o orçamento entregue por Marcelo ao Tribunal Constitucional mostra que não há margem para grandes eventos: apenas 20 mil euros para a rubrica de «comícios e espetáculos».

«A ideia é fugir às coisas tradicionais», garante também o diretor de campanha Pedro Duarte, admitindo que «em Braga por ser o encerramento faz sentido haver uma coisa maior» e que o mesmo poderá acontecer em Lisboa e no Porto, apesar de ainda não estar nada definido.

Distritais dão apoio, mas Marcelo troca-lhes as voltas

A relação de Marcelo com o PSD continua a ser ambígua. As estruturas estão a dar o que Virgílio Macedo, presidente da distrital do Porto, classifica como «apoio soft». Mas há também quem se queixe de estar a ser posto à margem.

«Basta olhar para os mandatários distritais e regionais para ver que cerca de 90% são militantes do PSD», aponta um dirigente de uma estrutura local social-democrata, que assegura que Rebelo de Sousa está a receber apoio «logístico» das distritais. «Ajudamos a indicar instituições a visitar, recomendamos ações, fazemos mobilização quando ela faz sentido», conta ao SOL.

Marcelo não abdica, porém, de se mostrar independente e, para o assegurar, troca as voltas às distritais. «Quando quer ir sozinho, só avisa que houve uma ação depois de a ter feito. E está continuamente a mudar a agenda», queixa-se a mesma fonte que, não escondendo alguma irritação, diz entender a estratégia de aparecer o menos colado possível ao PSD e às suas estruturas.

«Ninguém acha muita piada, mas toda a gente entende que ele precisa de ir buscar votos ao centro para ganhar à primeira volta», reconhece o dirigente social-democrata.

Noutras distritais ouvidas pelo SOL, o tom é o mesmo. «É a estratégia do Prof. Marcelo. Quer mostrar independência», diz um dirigente local. «As pessoas já interiorizaram que é assim», confirma Virgílio Macedo.

De resto, parece já completamente afastada a hipótese de Passos e Portas aparecerem junto a Marcelo na campanha. Para o justificar, o candidato evocou até as eleições intercalares para a Câmara de São João da Madeira, explicando que o melhor será não misturar «eleições partidárias» com as presidenciais.

Sampaio da Nóvoa com governo e PS na caravana

Já Sampaio da Nóvoa aposta em não esconder apoios do governo e do PS. Além de Pedro Delgado Alves, deputado, vice-presidente da bancada parlamentar do PS e diretor de campanha de Nóvoa, que vai seguir na caravana, são esperados membros do governo, como Augusto Santos Silva, Capoulas Santos ou Vieira da Silva.Também os ex-Presidentes da República deverão juntar-se. Ramalho Eanes participará já numa ação de campanha em Castelo Branco, na terça-feira.

A primeira semana será passada fora de Lisboa, depois do arranque amanhã nos distritos da Guarda e de Viseu. Nóvoa faz ainda uma passagem pelos Açores, de amanhã a oito dias, depois de um almoço-comício em Lisboa. O encerramento da campanha está marcado para a mesma cidade escolhida por Marcelo para fazer o derradeiro apelo ao voto: Braga.

Nóvoa quer uma campanha de proximidade e não serão preparados grandes comícios, também à semelhança de Marcelo. «A campanha entra agora numa fase em que é queremos chegar ao coração das pessoas, dar alma a uma candidatura que as pessoas já perceberam que é para levar a sério», explica fonte da candidatura ao SOL.

 O debate de quinta-feira com Marcelo animou as hostes da caravana que se prepara para a derradeira (e quarta) volta a Portugal, desta vez mais depedente das condições atmosféricas. A expetativa não arrefeceu. Não há quem não acredite que não haverá uma segunda volta.

margarida.davim@sol.pt com Ricardo Rego e Manuel A. Magalhães