Marcelo afinal também é fixe

Na reta final da primeira semana de campanha, Marcelo Rebelo de Sousa teve a sua primeira grande arruada. “Não é uma arruada, é um contacto com a população”, corrige prontamente um membro da comitiva, que tem um glossário de palavras proibidas, onde “comício” passa a “sessão de esclarecimento” e “arruada” a “contacto com a população”.

Terminologias à parte, Marcelo teve um banho de multidão, num dia de muito sol, num dos maiores bastiões do PSD desde 1974, as Caldas da Rainha. Depois de dias em que teve de entrar nas lojas para fugir à chuva dos sucessivos alertas laranjas que têm assolado o país, o candidato que prefere manter distância da máquina social-democrata teve uma manhã em cheio, com partida na Praça da Fruta.

À sua espera tinha já o histórico centrista Narana Coissoró e o presidente da comissão política distrital do PSD, Fernando Costa. Mas também uma mão cheia de populares, animados com a ideia de ver ao vivo o professor dos comentários na TVI. De cumprimentos rápidos aos políticos, Rebelo de Sousa passou ao contacto com a população a quem não poupou tempo nem atenção.

A arruada arrancou com laranjas, que o candidato comeu logo no local. “Está ele a pagar a campanha, coitado. Tem de aproveitar para comer”, comentava-se por perto da banca de fruta onde Marcelo esbanjava simpatia e ia fazendo conversa sobre as vendas do mercado. “Rosas vermelhas antigamente eram sinal de paixão”, dizia à florista. “Politicamente, não gosto muito de rosas, murcham muito no inverno. Gosto mais de cravos, resistem mais”.

Como se tivesse todo o tempo do mundo, Marcelo falou com todos os que quiseram falar com ele, mesmo que entre a multidão e a confusão de repórteres se tornasse difícil chegar perto. “Os jornalistas não saem de volta dele, queria ir lá falar com ele”, queixava-se um popular.

Mais sorte teve um grupo de jovens alunas de um curso profissional de serviços jurídicos que aproveitou para perguntar a Marcelo o que vai fazer pela Justiça e até para pedir conselhos sobre o que devem fazer quando acabarem o curso e estiverem aptas a trabalhar como funcionárias nos tribunais. “Se tiverem possibilidade, continuem sempre a formar-se, mesmo que comecem já a trabalhar”, aconselhou o candidato, enquanto um dos organizadores locais da arruada confessava que aquelas eram as suas alunas. “Meninas, vão ter mais dois valores a Processo Penal”, dizia o membro da comitiva, enquanto as jovens ainda tiravam fotografias com Rebelo de Sousa.

Pelo meio, outro grupo de jovens, ia distribuindo uns pequenos papéis, que acabaram por fazer mais sucesso entre os jornalistas do que entre a população. Em pequenos retângulos brancos lia-se a letras gordas e azuis: “Marcelo é fixe”.

Eram poucos, não eram autocolantes e a comitiva garantiu que se tratava de material espontâneo. “Isto deve ter sido impresso em casa”, dizia um assessor de Marcelo.

O slogan, roubado à campanha de Mário Soares em 1986, ainda ecoou aqui e ali, mas essas são umas presidenciais que Marcelo não deve querer recordar. Nessa altura, o candidato da direita era Freitas do Amaral – agora seu apoiante – e estava à frente em todas as sondagens. Mas nas urnas os portugueses obrigaram Freitas a ir a uma segunda volta e, com a esquerda unida, Soares conseguiu o seu primeiro mandato em Belém.