Duas semanas depois, as ondas de choque das agressões sexuais que aconteceram em Colónia na noite da passagem do ano não diminuem de intensidade. Os últimos números apontam para 652 queixas e o país está dividido sobre a forma de lidar com o que aconteceu depois de mais de mil homens – que, segundo várias testemunhas, eram de «origem árabe ou do norte de África» –, visivelmente embriagados, terem apalpado e violado mulheres que comemoravam a chegada de 2016 ao pé da estação de caminhos de ferro da cidade.
«Uma dimensão de crime completamente nova», diziam as autoridades na altura. Depois, começaram os debates e manifestações: contra e a favor dos refugiados.
Para a presidente da Câmara de Colónia, Henriette Reker, é «completamente inapropriado associar um grupo de homens provenientes do norte de África aos refugiados». Opinião que foi prontamente partilhada por outros políticos e defensores dos milhões que chegam à Europa em busca de auxílio.
Contudo, dias mais tarde e com base em investigações, as autoridades anunciavam a existência de refugiados entre os suspeitos já detidos. «No estado atual das investigações, também há entre os suspeitos alguns refugiados que chegaram até nós no ano passado», avançou Ralf Jaeger, o ministro do Interior.
Uma confirmação que levou o Governo alemão a agir, com a chanceler Angela Merkel a anunciar medidas mais rígidas para a permanência no país de refugiados que cometem crimes. Quer já o tenham cometido, quer sejam suspeitos, verão facilitado o seu processo de deportação.
Heiko Mass, ministro da Justiça, garantiu que «ninguém está acima da lei», mas pediu que as suspeitas não recaiam sempre sobre todos os refugiados que se encontram no país. Avançou ainda com uma hipótese, a de que os ataques possam ter sido planeados. «Que ninguém me venha dizer que isto não foi coordenado ou preparado. A minha suspeita é que essa foi a data escolhida propositadamente, dado que era esperado um elevado número de pessoas. Isto daria, mais uma vez, uma nova dimensão [aos crimes]», disse. Até ao momento a polícia já efetuou pelo menos 31 detenções, sendo que 18 são refugiados à procura de asilo.
Para facilitar as investigações, a procuradoria local prometeu uma recompensa de 10 mil euros a quem tiver informações que permitam levar a polícia aos agressores.
Queixas
A 5 de janeiro o número de queixas não ultrapassava as 90. Hoje já são 652. Desse número, 40% estão relacionados com agressões de caráter sexual, incluindo violação. E depoimentos de várias mulheres abusadas ou roubadas começaram a chegar a órgãos de comunicação social. A situação foi de tal modo extrema que uma delas contou ao New York Times: «Nunca me tinha acontecido um polícia dizer-me ‘Adorava ajudá-la, mas não consigo’». A polícia de Colónia está, aliás, sob fogo – acusada de não ter sabido responder ao extremar dos acontecimentos.
Com medo de novo ataque do género, as alemãs decidiram proteger-se. Nesse sentido, Colónia registou durante esta semana um aumento significativo de procura de armas de autodefesa, como pistolas de alarme e ‘sprays’. Este tipo de procura estende-se ainda a outras cidades alemãs onde aconteceram agressões deste género, caso de Hamburgo.
Uma das maiores festividades alemãs é o Carnaval, que terá este um nível de segurança reforçado.