O CDS é um partido mais identificável com os Republicanos, mas, aos amigos, Paulo Portas tem uma frase em inglês para manifestar a sua preferência: «Hillary is my conservative candidate», diz Portas aos amigos. Uma preferência justificada pelo perfil moderado e pela atitude profissional na condução dos assuntos de Estado. E que ao mesmo tempo tem uma implícita desconfiança em relação ao painel de candidatos conservadores republicanos.
Se o líder cessante do CDS prefere Hillary pela experiência política demonstrada, a futura líder do CDS, Assunção Cristas, tem simpatia pela candidata pelo facto de ser mulher. «Não tenho seguido ao detalhe a campanha. Prestando solidariedade de género, achava interessante ter uma mulher à frente da presidência», diz ao SOL.
Hillary seduz também no PSD. Marques Mendes prefere-a a qualquer dos republicanos que se perfilam, mesmo aos moderados Jeb Bush e Marco Rubio.
Oex-ministro e ex-dirigente do PSD Ângelo Correia dá três razões para a escolha da ex-responsável pela política externa americana no primeiro mandato de Obama: «Experiência, capacidade e organização».
O eurodeputado Paulo Rangel oscila entre os republicanos Rubio e Bush e contempla o voto na democrata Hillary. Mas acaba por mostrar uma preferência pela mulher de Bill Clinton: «Ela desempata sobre os outros dois pela sua experiência política. Acho que se adaptará imediatamente às exigências do cargo».
Nuno Magalhães: ‘Antes Sanders que Trump’
Para várias personalidades do centro-direita, a eleição de Hillary não será celebrada como uma vitória – será antes encarada com o alívio de um mal menor, perante a hipótese de ver o populista e extremista Donald Trump na Casa Branca.
O líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, opta pelo «voto útil» contra Trump. «Votaria em qualquer candidato para impedir Trump de ganhar, até em Bernie Sanders», diz com uma gargalhada, ao referir o candidato mais à esquerda, que se autodefine como socialista. E diz que, para ele, «Hillary é um mal menor». Uma atitude pragmática, depois de admitir, que se fosse eleitor nos EUA, sentir-se-ia «metido num grande sarilho» nestas eleições em que os candidatos republicanos não o entusiasmam. «No limite», diz, «teria que me debater com a decisão de me abster ou ir votar», admite Nuno Magalhães.
O deputado social-democrata Duarte Marques se confronta com a tentação do voto em branco, mas acabar por fazer uma escolha. «Não me revejo em nenhum candidato, mas votaria na Hillary, apenas por exclusão de partes», diz ao SOL.
Trump, é um ‘ignorante com o palato avariado
Se em relação a Hillary a direita portuguesa revela uma paleta de sensibilidades, já o candidato mais radical da direita suscita a repulsa geral. Donald Trump é uma «visão apocalíptica» para o eurodeputado Nuno Melo. E o centrista lembra ainda com desgosto declarações atribuídas ao magnata do imobiliário («Os portugueses são o mesmo que espanhóis, só que com pior vinho», terá dito Trump) e devolve o piropo: «Trump revelou-se um ignorante sobre os portugueses e tem o palato avariado», diz Nuno Melo.
Ignorante até é um adjetivo leve, comparado como outras apreciações sobre o magnata. «Trump é um horror», resume Nuno Magalhães. «Assusta», diz Paulo Rangel. Já o ex-ministro Bagão Félix, comedido nas palavras, demonstra o que pensa de Trump na sua escolha de candidato: «votaria republicano. Nunca no Trump».
Jeb é o melhor dos Bush
Alguns dirigentes da direita portuguesa tem em Jeb Bush o mais aproximado a um candidato aceitável na sua área política. «É um republicano de uma linha moderada», explica Telmo Correia. Odirigente e deputado centrista, se tivesse que se confrontar com uma escolha votaria no terceiro Bush a tentar mandar na Casa Branca.
Nuno Magalhães também simpatiza com o ex-governador da Florida . «É o melhor dos Bush», justifica. Mas acha que depois do pai de Jeb Bush (George) e do irmão (George W. ) terem sido presidentes é um excesso insistir nesta linhagem – «Os EUA iam começar a parecer-se com uma monarquia».
Outro centrista, Nuno Melo, também ponderaria votar em Jeb. «Eu escolheria um republicano, embora nenhum me entusiasme. Votaria entre Jeb Bush e Ted Cruz».
EUA salvam a face à Europa
Os políticos portugueses ouvidos pelo SOL mostram-se preocupados com o populismo dos candidatos mais extremistas. O eurodeputado do PSD Paulo Rangel mete o democrata Bernie Sanders na caixa dos demagogos (juntamente com Trump) e de Marco Rubio diz que «está bem mais à direita do que eu gostaria». E conclui que «as eleições americanas mostram que os populismos e as manifestações de extremismo não são um exclusivo da Alemanha, da França ou da Finlândia».
Nuno Melo também mete Sanders no grupo dos extremistas e prefere nem pensar num cenário que é teoricamente possível: uma batalha entre Trump e Sanders. «Isso seria um cenário apocalíptico», diz o centrista.
Paulo Rangel diz que os extremistas na corrida à Casa Branca não prejudicam a política apenas pela sua presença. «Eles arrastam o nível do debate e obrigam os mais moderados a terem de jogar o campeonato da demagogia».
Passos Coelho não se compromete
No inquérito à direita sobre as eleições americanas, houve quem não se quisesse comprometer. «Prefiro não responder», foi a resposta de membros do anterior governo, aparentando querer conservar a reserva de diplomacia própria dos representantes do Estado. Já o ex-primeiro-ministro aceitou entrar no desafio, mas a resposta demonstra que não perde de vista voltar à chefia do Governo. Preferindo não indicar um nome, deixa um modelo de candidato: «Há dois ex-Presidentes norte-americanos extraordinários cuja ação admiro e que poderiam ser inspiradores para esta eleição: Kennedy e Reagan», diz Passos Coelho ao SOL. «Não sei qual de entre os que se apresentaram agora se aproxima mais deste género, seja entre democratas ou entre republicanos. Pode ser que ainda se revelem», acrescenta.
* com A.S.L., L.C. e R.R.