Marcelo quer ser "um Presidente que não é a favor nem contra ninguém". E "assim será politicamente do princípio ao fim do seu mandato".
Num tom particularmente afectuoso, emocionado e cheio de referências ao ser português e à pátria, Marcelo Rebelo de Sousa retomou a promessa de querer "sara feridas" feita na campanha eleitoral, "nunca esquecendo que o que nos une é muito mais importante e duradouro do que aquilo que nos divide".
Curiosamente, as palavras do Presidente recuperaram quase ao milímetro uma frase que minutos antes tinha sido proferida pelo socialista Eduardo Ferro Rodrigues. "Quarenta anos depois, é muito mais o que nos une do que aquilo que nos divide", dizia o presidente de uma Assembleia da República que voltou a mostrar ainda alguma crispação pela forma como ao longo dos dois discursos se foram dividindo os aplausos pela direita e pela esquerda, de acordo com o que Ferro e Marcelo foram dizendo.
Rebelo de Sousa tem noção de que os desafios que terá pela frente em Belém são "difíceis, complexos, envoltos em incógnitas". Mas sabe como os ultrapassará: "com honestidade, com paciência, com perseverança, com temperança, com coragem, com humildade" e "preferindo os pequenos gestos que aproximam às grandes proclamações que afastam".
À Assembleia da República, o Presidente prometeu "solidariedade institucional indefetível", ao mesmo tempo que garantiu ser "um guardião permanente e escrupuloso da Constituição e dos seus valores".
Depois de quatro anos em que a Constituição se tornou numa arma política e à esquerda se clamou várias vezes por mais respeito ao texto constitucional, o Presidente que ajudou a votá-la e a ensinou durante quarenta anos na Faculdade lembrou a importância de a respeitar.
A crise dos últimos quatro anos esteve, aliás, bem presente nas palavras do Presidente recém empossado. "Temos de cicatrizar feridas destes tão longos anos de sacrifícios, no fragilizar do tecido social, na perda de consensos de regime, na divisão entre hemisférios políticos", disse Marcelo, lembrando que "sem rigor e transparência financeira, o risco de regresso ou de perpetuação das crises é dolorosamente maior, mas por igual, que finanças sãs desacompanhadas de crescimento e emprego podem significar empobrecimento e agravadas injustiças e conflitos sociais".