Isso mesmo ficou evidente numa entrevista ao diário francês “L’Aurore”, no verão de 1969, na qual “Salazar revelava estar convencido de que ainda exercia funções governativas, fincando-se a saber que alguns ministros se prestavam ao piedoso teatro de ‘ir a despacho’, para alimentarem a ilusão do antigo ditador”, lembra o embaixador.
Para Francisco Seixas da Costa a comparação entre Passos e Salazar é inegável. “Nas últimas semanas, a avaliar pela coreografia do dr. Passos Coelho, com a bandeirinha na lapela dos tempos do ‘governo de Portugal’ e afazer inaugurações em autarquias de amigos, fica-se com a sensação de que terá sido afetado pela síndrome do seu longínquo antecessor”.
E partilha ainda uma dúvida, para a comparação entre os dois ex-líderes ser completa. “Algum ministro ainda irá ‘a despacho', para lhe atenuar o desgosto da perda do poder para a ‘geringonça’ – que devia durar uns dias, mas que, afinal, é mais resistente do que parecia ser?”.
A resposta, ironiza, podia ser dada numa entrevista ao jornal L’Aurore. “Teria graça ver o antigo primeiro-ministro entrevistado pelo L’Aurore, para percebermos se, tendo ele saído definitivamente de São Bento, São Bento já saiu dele”, escreve o embaixador.
“O tempo é implacável. O "L'Aurore" já não existe, desde há já bastantes anos. Da mesma forma que o primeiro-ministro Passos Coelho já não existe, desde há já cada vez mais meses. Ele saberá?”, questiona Seixas da Costa no seu blogue “duas ou três coisas”.