Passos Coelho: nós somos um Rio que não vai parar

1.Inicia-se hoje o Congresso do PSD, o qual irá “reentronizar” Pedro Passos Coelho. Será um Congresso com pouco picante – o único militante do PSD com peso para confrontar Passos Coelho, Rui Rio, já anunciou a sua ausência. Nuno Morais Sarmento não encanta, nem entusiasma. Pedro Duarte é um proto-candidato (ainda?) de segunda linha, empolado,…

2.Neste contexto, Pedro Passos Coelho – não obstante o seu desgaste após governar quatro anos em crise permanente e crónica – é, sem dúvida, o Presidente mais forte que o PSD poderia ter. Note-se, contudo, que Rui Rio não vai ao Congresso – mas vai. Passamos a explicar o oximoro: Rui Rio não vai fisicamente ao Congresso, mas fez questão de tornar inevitável que o seu nome seja falado à exaustão durante todo o fim de semana. Como? Dando uma entrevista à TSF em que, no essencial, critica as posições políticas mais recentes de Pedro Passos Coelho.

3.Discurso que foi secundado por Nuno Morais Sarmento (na véspera) e por Paulo Rangel (no dia seguinte). Os três alinharam pelo mesmo diapasão: Pedro Passos Coelho está cansado; tem-se revelado desastrado na oposição; hoje é o líder natural, amanhã poderá não o ser. Nuno Morais Sarmento foi, ainda, mais longe: fixou o prazo de um ano para voltar a avaliar a liderança de Pedro Passos Coelho. Ou seja: o ano de 2017, ano de eleições autárquicas. A frase de Morais Sarmento foi tudo – menos inocente. Pelo menos, na fixação do calendário.

4.Objetivamente, quem corre para disputar a liderança de Pedro Passos Coelho é Rui Rio – Nuno Morais Sarmento e Paulo Rangel integram a sua “brigada de acção revolucionária” que irá, nos próximos tempos, trabalhar a máquina para uma possível mudança na liderança. E o que quer Rui Rio, afinal?

Fingir de morto até os militantes do PSD (e os portugueses) esquecerem que Pedro Passos Coelho venceu as últimas eleições legislativas contra todas as expectativas. Mas um morto muito presente, bem falante e bem falado. Bem falante – porque Rui Rio fará intervenções pontuais, opinando sobre política económica e finanças. Bem falado – porque Rui Rio quer capitalizar o ainda capital de confiança e respeitabilidade de que goza na comunicação social e junto da generalidade dos portugueses. Está morto, fora da política – mas com dois pezinhos bem firmes muito dentro. Os dois pezinhos já sabemos quem são – Nuno Morais Sarmento e Paulo Rangel;

Aproveitar o impulso da eleição de Marcelo Rebelo de Sousa, colando-se à sua popularidade e à vontade do atual Presidente da República em promover uma mudança de liderança no PSD. No fundo, Marcelo quer para o PSD o mesmo que aconteceu no CDS com a saída de Paulo Portas e a, consequente, entrada em cena de Assunção Cristas. Marcelo não o afirmou expressamente – mas nãos e coíbe de repetir, nas entrelinhas, este seu desejo ao insistir nos consensos e no diálogo entre os partidos. Leia-se: em acordos de regime celebrados entre PS e PSD. Para Marcelo, o ideal é a constituição de um bloco central – na medida em que esta solução política reduz significativamente o risco de instabilidade política, para além de aumentar as probabilidades de reeleição de Marcelo. Ora, quem é a pessoa certa para a formação de um “”bloco central” com António Costa? Rui Rio – os dois dão-se lindamente e são amigos e cúmplices políticos desde há muito tempo;

Rui Rio quer ganhar tempo até constituir um grupo forte e uma logística que lhe permite vencer as eleições diretas no partido. Aqui, Nuno Morais Sarmento poderá ser determinante, se souber voltar a ultrapassar Marco António Costa no domínio das estruturas locais do PSD. E veremos como se portará o barrosismo: como bloco ou irão distribuir jogo, dividindo-se entre Passos e Rui Rio? Miguel Relvas, neste momento, está a preparar Pedro Duarte – mas não exclui a hipótese do apoio útil a Rui Rio. Se Pedro Passos Coelho perder as autárquicas, abrir-se-á uma crise interna: Rui Rio virá a jogo….se julgar que a vitória será certa. Mais uma vez, Rui Rio revela uma falta de coragem política atroz – está a jogar o mesmo jogo das presidenciais…e todos sabemos o que aconteceu. Faltou à chamada – e ainda bem.

5.O que deverá Pedro Passos Coelho fazer? Responder a Rui Rio? Antecipar-se, chamado Rui Rio para a união, para ajudar na nova fase da sua liderança – ou incitá-lo a vir a jogo? Julgamos que Passos deverá ser absolutamente indiferente para com Rui Rio. Ou melhor: deve ser simpático com o portuense. Sugerimos que Passos Coelho lhe dedique o hino do PSD, com letra de Dias Loureiro e que marcou a era cavaquista: “ Nós somos um Rio/Que não vai parar/É um desafio, crescer, trabalhar/Anda, vem daí/Junta-te a mim/ Fazer um país/ E eu vou dizer sim/…às vezes é preciso dizer “não”/ porque a gente agora vai dizer “sim”…”.

6.Confessemos: ver Pedro Passos Coelho a cantar este hino do PSD seria engraçado, irónico –  um bonito gesto para com Rui…Rio.