Espera que deste congresso possa sair alguma mudança na estratégia seguida por Passos Coelho?
Espero que o congresso seja um virar de página. O PSD tem razões para ter orgulho no que fez nos últimos quatro ou cinco anos no país, mas este tempo é de facto diferente e é importante que percebamos isso. O PSD tem de rapidamente preparar uma proposta política para o futuro que pense o país num prazo de dez anos. Tem de fechar o ciclo anterior, fechar com orgulho e reconhecendo o que de positivo foi feito, mas encerrar essa página.
O PSD está preso ao passado?
O PSD tem estado numa fase de transição e ainda a olhar um pouco para o retrovisor. Não é criticável que tente enaltecer o que fez pelo país, mas não tem apresentado, de facto, uma ideia de futuro para Portugal e isso é importante que se comece a preparar.
Pedro Passos Coelho terá a capacidade de se reinventar para este novo ciclo?
Tem competência e capacidade individual para isso. Claro que, em primeiro lugar, tem de ter motivação e tem que ter esse objetivo. O primeiro passo é ele assumir que o quer fazer.
Há quem ache dentro do PSD que se as eleições forem a curto prazo Passos Coelho é o homem certo, mas se o governo durar dois ou três anos o partido terá de encontrar uma alternativa. Qual é a sua opinião?
Eu acho que, nesta fase, o partido revê-se na liderança de Passos Coelho e neste congresso a discussão não deve ser em torno de rostos, nem de figuras e muito menos em torno de vaidades pessoais. Aquilo que está em causa é qual é o modelo estratégico que pretendemos para o partido. Na minha opinião o modelo estratégico é pensar o país a dez anos. Não é uma questão de rostos. É fundamental o PSD focar-se naquilo que pode melhorar na sua conduta e no que pode mudar, porque os tempos são outros.
E tem feito essa reflexão?
É algo que não tem acontecido nos últimos anos. Por força da situação de emergência que vivemos, por força de termos estado concentrados na governação, o PSD não tem parado para pensar e para discutir os temas estruturantes da sociedade portuguesa. E temo-nos focado excessivamente, por força das circunstâncias, em matérias de índole financeira e de gestão financeira. O fim da política não é uma boa gestão das finanças. A boa gestão das finanças é o pressuposto para depois se fazerem boas políticas. É fundamental que haja esta inversão estratégica de se perceber que a matéria financeira é muito importante mas é só uma premissa, não é um fim em si mesmo.
Vai marcar presença no congresso?
Sim e tenciono falar e dizer exatamente isto. Há um virar de página e há um projeto político novo que tem de ser apresentado aos portugueses. Não porque eu não concorde com o que foi feito, mas teve o seu tempo. As sociedades mudam de forma muito rápida. Acharmos que o Portugal de 2010 é o mesmo Portugal de 2016 é um erro quase infantil. Acharmos que temos de retomar o projeto de 2010… Por muito adequado que ele fosse para aquele contexto, hoje em dia está completamente fora de tempo. Há um país novo em que tem de se pensar.