Em causa está sobretudo o método usado no processo de demissão do CEME, com acusações públicas do ministro da Defesa. Carlos Jerónimo pediu a demissão depois de Azeredo Lopes ter requerido explicações públicas ao CEME sobre declarações do subdiretor do Colégio Militar, em que este admita a discriminação de alunos homossexuais.
Azeredo Lopes considerou “inaceitável” qualquer tipo de discriminação, deixando no ar um tom de condenação prévio. Uma de várias fontes ouvidas pelo SOL resume que “nas Forças Armadas, as coisas não se tratam assim, com acusações na praça pública”.
“Há mal-estar”, admite o coronel Manuel Pereira Cracel, presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA). “O ministro da Defesa, talvez pela sua inexperiência política, tratou um dos chefes militares como um qualquer diretor de serviço, quando as coisas não deveriam ser assim”, lamenta Pereira Cracel ao SOL.
As Forças Armadas são um pilar do Estado e “não se pode tratar com a leviandade” com que Azeredo Lopes atuou, “pedindo explicações na praça pública, como se de qualquer funcionário se tratasse”. Para a AOFA o que aconteceu foi “uma desconsideração total” para o chefe do Exército e a instituição militar.
Carlos Jerónimo é particularmente respeitado pelas chefias militares. O general tinha sido várias vezes porta-voz de insatisfações perante o poder político. O que também leva os militares a suspeitar do “imediatismo com que se sucederam os passos” que levaram ao pedido de demissão.
O ex-chefe do Estado-Maior do Exército Pinto Ramalho também criticou ontem a demissão de Carlos Jerónimo. “Antes de se tomarem decisões públicas, é melhor que no íntimo e na discrição dos gabinetes se esclareça convenientemente o que se passou”, afirmou o general Pinto Ramalho à Rádio Renascença.
Pressão do Bloco
Em sentido contrário, a ILGA, associação de defesa dos direitos dos homossexuais, saúda a saída de Carlos Jerónimo, dois dias depois de lhe serem exigidas explicações por causa da alegada exclusão de alunos homossexuais no Colégio Militar.
A polémica nasceu com uma reportagem do Observador, no dia 1 de abril. O subdiretor do Colégio Militar, tenente coronel António Grilo, admitiu a discriminação, afirmando que os pais dos alunos homossexuais eram levados a retirá-los do colégio. O BE pediu de imediato a sua audição no Parlamento. Para uma fonte socialista ouvida pelo SOL, crítica do processo, Azeredo Lopes “ter-se-á precipitado, motivado pela vontade de agradar ao Bloco”.