Moçambique: mais de 100 corpos encontrados em vala comum

Um grupo de camponeses descobriu esta quinta-feira uma vala comum com cerca de 120 corpos na zona 76, posto administrativo de Canda, no interior da Gorongosa, centro de Moçambique.

Os cadáveres, alguns já em alto estado de decomposição, foram encontrados numa zona onde estava a ser extraída areia para a reabilitação de uma estrada nacional. O local fica próximo de uma mina ilegal de extração de ouro, pouco frequentada devido à escalada de violência na região.

Um dos camponeses que descobriu os corpos disse à agência “Lusa” que “a vala tem cerca de 120 corpos, uns já em ossadas e outros ainda em decomposição”, acrescentando ainda a suspeita de terem sido descarregados recentemente no local uma vez que havia marcas de manobras de viaturas.

Outra testemunha afirmou à Lusa não haver “vestígios militares visíveis”, afastando assim a hipótese de o caso estar relacionado com a tensão atual que se vive naquela região, com as forças do governo e a ala militar da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) a trocarem acusações sobre assassínios e raptos ocorridos na região ao longo dos últimos meses.

Há cerca de duas semanas a Renamo denunciou a morte de 14 membros, dizendo que estes foram executados pelo exército desde o início de 2016. Além das vítimas, o maior partido da oposição moçambicana denunciou o desaparecimento de outras dezenas de pessoas, incluindo os guarda-costas do líder Afonso Dhlakama, que no início do ano se refugiou precisamente na região de Gorongosa.

A descoberta desta vala comum, ainda não confirmada pelas autoridades, surgiu na véspera de uma “mega manifestação pacífica” convocada através de SMS e de redes sociais online. “Dias 29 e 30 todo o moçambicano sairá às ruas em repúdio à guerra e à corrupção”, diz uma mensagem escrita que circulou nos últimos dias pelo país.

A jornada pretende mostrar a indignação popular não só face ao confronto armado mas também às última revelação de encobrimento de dívida que na semana passada levaram o FMI a suspender a entrega de uma tranche do empréstimo acordado, no valor de 155 milhões de dólares.

A descoberta de 1,8 mil milhões de dólares em dívida ocultada pelo executivo moçambicano já levou também o Banco Mundial e o Reino Unido a suspenderem os acordos de apoio financeiro que tinham com o país.

A jornada de protesto está a gerar receios de violência num país em crescente tensão: durante a tarde de ontem o i viu interrompida abruptamente uma chamada com uma fonte moçambicana, que viria a informar que as “todas as redes de telemóvel foram cortadas”. A mesma fonte acrescenta que o governo está a mobilizar forças de segurança para prevenir desacatos durante as manifestações: “Há ameaça de tumulto e Maputo está cheia de blindados”, descreveu ao mostrar receio de ver fechadas as entradas na capital do país.

nuno.e.lima@sol.pt