Os cadáveres, alguns já em alto estado de decomposição, foram encontrados numa zona onde estava a ser extraída areia para a reabilitação de uma estrada nacional. O local fica próximo de uma mina ilegal de extração de ouro, pouco frequentada devido à escalada de violência na região.
Um dos camponeses que descobriu os corpos disse à agência “Lusa” que “a vala tem cerca de 120 corpos, uns já em ossadas e outros ainda em decomposição”, acrescentando ainda a suspeita de terem sido descarregados recentemente no local uma vez que havia marcas de manobras de viaturas.
Outra testemunha afirmou à Lusa não haver “vestígios militares visíveis”, afastando assim a hipótese de o caso estar relacionado com a tensão atual que se vive naquela região, com as forças do governo e a ala militar da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) a trocarem acusações sobre assassínios e raptos ocorridos na região ao longo dos últimos meses.
Há cerca de duas semanas a Renamo denunciou a morte de 14 membros, dizendo que estes foram executados pelo exército desde o início de 2016. Além das vítimas, o maior partido da oposição moçambicana denunciou o desaparecimento de outras dezenas de pessoas, incluindo os guarda-costas do líder Afonso Dhlakama, que no início do ano se refugiou precisamente na região de Gorongosa.
A descoberta desta vala comum, ainda não confirmada pelas autoridades, surgiu na véspera de uma “mega manifestação pacífica” convocada através de SMS e de redes sociais online. “Dias 29 e 30 todo o moçambicano sairá às ruas em repúdio à guerra e à corrupção”, diz uma mensagem escrita que circulou nos últimos dias pelo país.
A jornada pretende mostrar a indignação popular não só face ao confronto armado mas também às última revelação de encobrimento de dívida que na semana passada levaram o FMI a suspender a entrega de uma tranche do empréstimo acordado, no valor de 155 milhões de dólares.
A descoberta de 1,8 mil milhões de dólares em dívida ocultada pelo executivo moçambicano já levou também o Banco Mundial e o Reino Unido a suspenderem os acordos de apoio financeiro que tinham com o país.
A jornada de protesto está a gerar receios de violência num país em crescente tensão: durante a tarde de ontem o i viu interrompida abruptamente uma chamada com uma fonte moçambicana, que viria a informar que as “todas as redes de telemóvel foram cortadas”. A mesma fonte acrescenta que o governo está a mobilizar forças de segurança para prevenir desacatos durante as manifestações: “Há ameaça de tumulto e Maputo está cheia de blindados”, descreveu ao mostrar receio de ver fechadas as entradas na capital do país.