A polémica com os colégios dá um exemplo perfeito de que esta é já uma geringonça bem oleada. No domingo passado, Marques Mendes demoliu o ministro da Educação, na SIC, afirmando que o Governo está a rasgar contratos com os colégios e a pôr em causa a liberdade de ensino. A resposta não se fez esperar e o vídeo do economista Ricardo Paes Mamede (em registo mimético da recente rubrica ‘2.59’ do site do Expresso) é já um sucesso de audiência. Foi visto mais de 300 mil vezes, contando com as visualizações no Youtube.
Ainda esta semana, outro exemplo: o estilo opinativo e agressivo de José Gomes Ferreira na entrevista a António Costa, teve resposta satírica no vídeo “ceci n’est pas um débat – cenas de um debate entre António Costa e o líder da oposição”. Nele, a Geringonça condensa, com efeito cómico, os comentários e perguntas do jornalista da SIC que incomodaram Costa, apresentado aqui como adversário político do Governo.
‘Estamos a incluir o PCP e o PEV’
Pedro Sales diz que a necessidade do blogue foi sentida no momento em que a maioria de esquerda se formou. “Percebemos a barragem do argumentário à direita e começámos a ver que era preciso arranjar uma maneira de equilibrar as coisas”, diz o ex-assessor do grupo parlamentar do BE.
A experiência bem-sucedida do BE na blogosfera e na comunicação política deu um impulso aos planos iniciais de Luís Vargas, que produz os vídeos e está na origem do Geringonça. Sales, por exemplo, ajudou a criar o Esquerda.net, o mais dinâmico veículo de informação e propaganda partidária da esquerda portuguesa, e é uma presença regular no Twitter.
“A Geringonça tem uma componente pedagógica, de explicação da realidade que acrescenta valor aos outros meios e que desmonta a direita”, diz ao SOL. A rubrica ‘Explicador’ do Observador é o modelo da secção ‘Detox’, exemplifica. E o efeito nas redes sociais da opinião de direita liberal publicada neste jornal online foi um argumento para arrancar com o Geringonça.
A promoção do blogue tem sido alavancada nas redes sociais por nomes mediáticos do PS, do BE, e até do Livre e os resultados surgiram. “Tivemos nesta fase da discussão sobre os colégios privados 20 mil visitas diárias, números ao nível do Esquerda.net”, conta Sales. Há uma satisfação por “a primeira grande batalha política desta maioria” fazer o pico de audiência do blogue.
Nota-se um desequilíbrio, com a falta de nomes do PCP e do PEV, mas Sales garante que “já estão a começar a aparecer”. O bloquista recusa comparações com o Câmara Corporativa, o blogue que alimentou discussões sobre se era ou não feito a partir do gabinete de José Sócrates: “Não somos um site anónimo, desde logo”.
Há quem trace a linha de distinção noutros termos – “aqui não há o lado trauliteiro do Câmara Corporativa” – ou sublinhando que este é um blogue político de outra geração, “adaptado aos tempos do Observador” (o órgão que a maioria de esquerda mais ataca na internet).
Seja como for, a maioria de esquerda tem ‘braços armados’ na net – como é o caso da recente página no Facebook intitulada Os Truques da Imprensa Portuguesa. Com a mesma qualidade técnica do Geringonça e rapidez, fez quinta-feira um fact check a um livro de economia de José Gomes Ferreira que põe em causa a credibilidade técnica do jornalista da SIC. E na segunda-feira saíra-se com o vídeo “os truques e as mentiras de Marques Mendes”, demolindo a crónica do comentador sobre os colégios privados. Aqui há anonimato, uma vantagem para ‘esticar a corda’ na agressividade.