O pós-capitalismo

Com o colapso do ‘socialismo real’ soviético a economia de mercado passou a ser o único sistema económico-social moderno existente no mundo. É natural que esta vitória do capitalismo tenha levado a uma certa euforia, em particular entre empresários e gestores. Mais importante, fomentou um clima de ‘vale-tudo’ para ganhar dinheiro, muito e depressa, que…

Mas, mesmo sem ter em conta essa crise, o capitalismo enfrenta hoje problemas que não admitem quaisquer triunfalismos. É o único sistema que funciona? Talvez, mas funciona mal.

As crises marcaram o capitalismo desde que ele conheceu uma grande expansão, com a revolução industrial. Crises económicas e financeiras, que se multiplicaram ao longo do séc. XIX, e sobretudo uma tremenda crise social, com milhões de trabalhadores, incluindo mulheres e crianças, a serem explorados nas indústrias nascentes. Só lentamente e após inúmeras batalhas foi sendo humanizado o trabalho no capitalismo industrial, em parte por receio do comunismo.

Com a Grande Depressão da década de 30 do séc. XX parecia ter chegado o fim do capitalismo. Havia uma alternativa no terreno: o comunismo da União Soviética. Mas foi este ‘socialismo real’ que ruiu em 1989. Afinal, era um regime bem pior do que a economia de mercado, com todos os defeitos desta. Defeitos que foram sendo parcialmente atenuados, através do chamado Estado social, presente na Europa Ocidental e, em menor grau, noutras sociedades capitalistas.

Entretanto, na China comunista a “revolução cultural” de Mao produziu uma catástrofe humanitária, que só agora o PC chinês reconheceu. Seguiu-se uma abertura ao mercado, mas não à liberdade política. Daí resultou um inédito surto de espetacular crescimento económico, que recentemente abrandou. 

Hoje volta a falar-se no fim do capitalismo e no ‘pós-capitalismo’, apesar de não ser nada claro, e muito menos unânime entre os críticos da economia de mercado, que regime a deveria substituir. É que são sérios os problemas que o capitalismo agora enfrenta.

Além dos problemas ambientais, que não são específicos do capitalismo (pelo contrário, pense-se na poluição na antiga URSS e na China dita comunista), o envelhecimento demográfico põe financeiramente em causa os apoios sociais. E, ao contrário do que aconteceu no séc. XX até há cerca de 50 anos, agravam-se as desigualdades de rendimento, o qual cada vez mais se concentra numa pequena minoria. Cresce a influência do dinheiro na política – vejam-se os EUA. E a globalização, sem enquadramento político a nível mundial, enfraquece os Estados e tira sentido à democracia.

O capitalismo entrou na fase final, depois de se ter adaptado a sucessivas crises? Não me parece, tantas vezes se profetizou o seu fim próximo, sempre desmentido pelos factos. Mas há quem preveja uma evolução para o pós-capitalismo. É o caso do jornalista britânico Paul Mason, um marxista não ortodoxo, cujo livro mais recente foi publicado entre nós: Pós-capitalismo – Um guia para o nosso futuro, ed. Objetiva, 2016.

Mesmo discordando do autor, é um livro que vale a pena ler. P. Mason aposta numa economia progressivamente gratuita, fora do mercado, como é a Wikipedia. Uma transição impulsionada pelas tecnologias de informação. Utopia? Provavelmente.