A Grécia e a austeridade

O Syriza era contra a austeridade, mas acabou por agravar as exigências impostas aos gregos

Na semana passada, o Eurogrupo, que junta os ministros das Finanças da Zona Euro, deu luz verde à transferência para a Grécia de uma tranche de 10,3 mil milhões de euros, parte do empréstimo de 86 mil milhões do terceiro resgate a este país. O dinheiro servirá para o Estado grego pagar dívidas ao longo do corrente ano.

 A Grécia, além de uma economia em queda há seis anos, enfrenta agora o problema de muitos milhares de refugiados no seu território. Não tem sido generosa a solidariedade dos seus parceiros na UE para lidar com a crise dos refugiados. Nem parece que a decisão do Eurogrupo de libertar a verba acima referida tenha a ver com generosidade, contra o que alguns esperavam.

 Mas a Grécia nunca facilitou as coisas. A crise grega eclodiu em 2009 quando se descobriu que o governo de Atenas havia falseado as contas públicas – o que também revelou fraca atenção, ou mesmo um deliberado fechar de olhos, de Bruxelas.

 Compreende-se a desconfiança europeia face aos gregos, que não têm um Estado minimamente funcional, em particular na cobrança de impostos. Mas Merkel atrasou demais a assistência à Grécia. Assistência condicionada ao cumprimento de certas medidas do governo de Atenas para reduzir o desequilíbrio das contas públicas do país. Veio então a austeridade e as manifestações, protestos e revoltas dos gregos contra ela. Com alguma razão, pois a austeridade imposta à Grécia tinha uma dimensão punitiva.

As contas do Estado grego pouco ou nada melhoraram com a austeridade. Daí a reestruturação de mais de um quarto da dívida pública grega há cinco anos, abrangendo em 84 por cento credores privados. Estes sofreram então uma perda (haircut, na gíria financeira) superior a metade do que haviam investido. Naturalmente que este haircut não aliciou alguém a emprestar dinheiro à Grécia. E tornou-se necessário um terceiro resgate.

 Ora o Syriza ganhou as eleições parlamentares no início de 2015. Partido de extrema-esquerda, contrário à austeridade, chegou ao governo, curiosamente aliado a um partido de extrema-direita. Em Julho o primeiro-ministro Tsipras promoveu um referendo sobre se os gregos aceitavam, ou não, a austeridade exigida pelos credores (agora sobretudo UE, BCE e FMI) para avançaram com novos empréstimos. O resultado foi um rotundo não.

 Tsypras deu então uma extraordinária cambalhota política e resolveu negociar com a troika. Aceitou uma humilhante austeridade, mas atrasou o mais que pôde a tomada concreta de medidas. Daí demora na chegada do dinheiro. Um atraso que custou à Grécia mais de 40 mil milhões de euros em produção e receitas perdidas.

O dinheiro, se chegar, terá um preço elevado para os gregos. O IVA sobe para inúmeros bens e serviços. As pensões sofrem cortes. As privatizações têm que acelerar. Etc. Ou seja, a entrada do Syriza em cena agravou a austeridade. Está em queda a popularidade do partido, que já tem dificuldade em fazer aprovar no parlamento as medidas que condicionam a vinda do dinheiro. Depois do acordo no Eurogrupo, o governo grego avisou que afinal não consegue aplicar algumas dessas medidas.

 E a nova restruturação da dívida grega, exigida pelo FMI? O assunto ficou adiado para 2018, depois das eleições na Alemanha. E ainda não é certo que o FMI participe no terceiro resgate à Grécia. Pior seria difícil.