Na altura em que França recebe o Europeu 2016, as manifestações e greves contra a reforma do trabalho continuam e – apesar dos pedidos do Presidente François Hollande, do primeiro-ministro, Manuel Valls e até do ministro do Desporto, Thierry Braillard – vão prosseguir.
«A França foi escolhida para sediar este grande evento e vai corresponder à grandeza da tarefa», disse Hollande na véspera do início do campeonato da Europa. «Vou estar mais atento e se medidas tiverem que ser tomadas, serão tomadas», garantiu o Presidente francês, prometendo que faria o que fosse possível para garantir que os protestos não atrapalharão a competição. «O Estado tomará todas as medidas necessárias para acolher e transportar os adeptos, e garantir que os jogos possam decorrer nas condições exigidas de segurança», garantiu o Presidente.
Contudo, apesar de os protestos terem acalmado, as greves continuam: a recolha do lixo na capital francesa está paralisada e vai continuar assim até 14 de junho. Mas não só. Os pilotos da Air France confirmaram esta semana uma greve de quatro dias que começará hoje. A companhia aérea informou que vai cancelar até 30% dos voos mas que espera minimizar os problemas para quem queira viajar para assistir aos jogos do Europeu. «Claro que vamos cuidar do Euro», prometeu Frederic Gagey, administrador da companhia aérea, acrescentando que a greve custaria à empresa cerca de 5 milhões de euros diários. Segundo a imprensa francesa, a UEFA está preocupada com esta situação uma vez que, com a greve, poderá haver dificuldades no transporte dos árbitros para os vários jogos do torneio.
Aos aviões estão a juntar-se os comboios. Depois de ter sido levada a cabo uma greve com a duração de nove dias como protesto pela elevada carga horária, os maquinistas vão agora voltar à greve. Durante o dia de ontem ameaçaram interromper os serviços, pondo em causa a circulação na linha que serve o Stade de France, onde decorreu o primeiro jogo de ontem.
Para minimizar o impacto, o governo e a empresa pública de transportes SNCF recorreram ao aluguer de camionetas que levaram parte dos 80 mil adeptos ao estádio.
As greves preocupam não só o governo francês mas também o Comité que está a organizar o Europeu. Ontem, o presidente Jacques Lambert lamentou os acontecimentos, acrescentando que a «festa já está um pouco arruinada» principalmente devido às greves. «De alguma forma, a festa já está um pouco arruinada porque a imagem que estamos a dar não é a que queríamos dar», disse Lambert em declarações à rádio France Inter. «Indubitavelmente, para os nossos amigos estrangeiros que vieram ou que se preparam para vir, não acredito que esta seja a melhor forma de os receber», disse o presidente do Comité referindo ao lixo que se encontra espalhado por toda a cidade. E falou também sobre as greves nos transportes. «Os jogos são feitos a pensar nos espetadores e isso é o mais complicado. Se os adeptos não podem vir ou circular por França, isso é que é dramático», lamentou.
Ainda assim, parece que há quem tencione minimizar os impactos da greve enquanto o campeonato durar. «Ontem ouvi o responsável nacional do [sindicato] CGT dizer que respeita o Europeu, e espero que ele seja ouvido», pediu o primeiro-ministro francês, Manuel Valls.
«Ela existe, a ameaça»
França está escaldada com os ataques terroristas e o evento que o país recebe preocupa o governo. «Ela existe, a ameaça. Mas não nos podemos deixar intimidar. A ameaça irá subsistir durante muito tempo e é necessário que apresentemos todas as garantias para o sucesso do Euro2016», admitiu no passado domingo o Presidente francês. «O risco zero não existe», completou o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve.
O diretor dos serviços secretos franceses, Patrick Calvar, também alertou para a possibilidade de atentados. «O Estado Islâmico quer colocar explosivos em lugares onde há um enorme número de pessoas e repete esse tipo de ações para criar um clima de pânico máximo. Claramente, França está sob ameaça e sabemos que o Estado Islâmico está a planear novos ataques», disse Calvar.
O medo de que algo possa acontecer levou os Estados Unidos a alertar os seus cidadãos para o risco de atentados durante o Europeu de futebol. «Os estádios do Euro, as zonas de adeptos nas ruas das cidades e todos os lugares públicos onde se possa assistir aos jogos pela televisão» são locais que facilmente podem ser alvos de atentados terroristas, avança um comunicado do Departamento de Estado americano. Também os cidadãos britânicos foram alertados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros para os mesmos riscos.
A Assembleia Nacional francesa alargou o mês passado o estado de emergência no país devido ao europeu de futebol.
Para o torneio, França espera receber dois milhões de adeptos estrangeiros. Foram destacados mais de 90 mil polícias, soldados e agentes de segurança privada que vão garantir a segurança do evento. Segundo o Comité organizador, a entrada nos estádios será «mais rigorosa do que nunca».