Não só Cavaco Silva nunca se referiu às sanções a Portugal – a exemplo, aliás, das intervenções de quase metade dos conselheiros que também não as mencionaram, nem sequer lateralmente – como a sua exposição no Conselho de Estado realizado na tarde da passada segunda-feira até foi entendida como «genericamente favorável e simpática para o Governo» de António Costa, segundo fontes da reunião.
É, pois, «abusiva e politicamente manipulada» a informação, noticiada pelo jornal Público, na quarta-feira, de que Cavaco teria «estragado a unanimidade do Conselho de Estado sobre sanções», visto que nunca as referiu ou justificou, direta ou indiretamente – segundo garantiram ao SOL conselheiros que estiveram presentes na reunião, que decorreu na véspera do Ecofin (conselho de ministros de Economia e Finanças dos Estados-membros da União Europeia), em Bruxelas.
‘Portugal pode crescer à média europeia’
Se é verdade que vários conselheiros se referiram criticamente à eventualidade de sanções a Portugal, o facto é que não houve qualquer unanimidade, visto que nem todos se lhes referiram, nem esse foi o tema central do debate, que incluiu o Brexit, as suas consequências para a UE e Portugal, e, em geral, a análise da situação económica e política europeia.
A intervenção de Cavaco Silva foi de cariz predominantemente económico e debruçou-se em particular sobre o Brexit. O ex-Presidente da República foi muito crítico para David Cameron, que acusou de ter cedido à pressão dos populismos políticos, e para os riscos de contaminação deste tipo de referendos pelas conjunturas políticas nacionais.
Mas Cavaco Silva fez questão de assinalar que Portugal nem será dos países e das economias mais afetados pelo Brexit, sobretudo em comparação com países como a Irlanda e a Bélgica, que deverão ser os mais penalizados. Cavaco, que fundamentou os vários passos da sua exposição com números, traçou mesmo um cenário favorável para a economia portuguesa, considerando que apenas a crise em Angola tem efeitos claramente negativos em Portugal, sendo bastante menor o impacto das crises no Brasil e na China.