Marcelo e as bofetadas preventivas de Bruxelas

Apesar disso, Marcelo voltou – mais uma vez – a lembrar que até agora os números da execução orçamental do Governo de António Costa são animadores e mostram que o país está a cumprir as regras europeias.

Marcelo Rebelo de Sousa continua a insistir na ideia da injustiça da aplicação de sanções a Portugal. Mas desta vez usou uma imagem curiosa para explicar por que motivo a Europa não deve castigar Portugal. O Presidente da República acha que impor um castigo agora seria como dar “um par de bofetadas” a uma criança por uma asneira que ela ainda não cometeu. 

“Vai-se castigar o quê? É castigar por castigar. É como um pai que pensa: ‘os meus filhos vão fazer asneiras, vão portar-se mal’”, diz o Presidente da República, que imagina esse pai a entra na sala onde estão as crianças estão sossegadas e a dar-lhe “um par de bofetadas”. Porquê? “Porque lhe pareceu que se iam portar mal no futuro”.

 A metáfora é curiosa e pretende atacar a possibilidade de um castigo europeu a Portugal. Mas dificilmente agradará ao Governo. 

É que PS, BE e PCP têm repetidamente lembrado que o procedimento com vista à eventual aplicação de sanções tem como alvo o período entre 2013 e 2015, altura em que era Governo a coligação PSD/CDS. 

Isso mesmo ficou, de resto, expresso no documento que foi emitido pela Comissão Europeia quando decidiu abrir este processo. 

Apesar disso, Marcelo voltou – mais uma vez – a lembrar que até agora os números da execução orçamental do Governo de António Costa são animadores e mostram que o país está a cumprir as regras europeias.

 O Presidente defendeu não ver lógica num castigo que “ou é contra o Governo de Passos Coelho, por causa de 0,2% muito discutíveis, quando há diferenças muito maiores, houve no passado e há no presente, noutras economias que nunca foram punidas, ou é contra o Governo de António Costa, por causa da gestão do orçamento deste ano”. 

“Se [uma sanção] não faz sentido ser em relação ao passado e não faz sentido ser em relação ao presente, então qual é o sentido das sanções? Mas vamos esperar”, disse, admitindo que o tema será seguramente tratado nas reuniões que terá amanhã em Belém com os vários partidos.

 Recorde-se que esta quarta-feira a Comissão Europeia vai novamente debruçar-se sobre a aplicação de sanções a Portugal e Espanha, mas que é tido como provável que uma decisão final sobre o tema só seja conhecida depois do Verão, uma vez que ficou decidido que o Parlamento Europeu – que só retoma os trabalhos em setembro – terá também uma palavra a dizer nesta matéria.