CDS quer impor Cristas, PSD resiste

Há centristas que querem convencer a líder a anunciar rapidamente uma candidatura à Câmara de Lisboa para condicionar o calendário social-democrata e tentar ficar à frente de uma lista conjunta. Mas esse não é o plano de Passos para a capital.

No CDS há cada vez mais a ideia de que Assunção Cristas pode ser uma candidata vencedora em Lisboa e de que pode até ser a cabeça de lista de uma coligação com o PSD. Para isso, alguns centristas tentam convencer a líder a avançar rapidamente, condicionando assim uma candidatura social-democrata.

A ideia entre os que queriam ver Cristas a encabeçar uma candidatura do centro-direita à maior câmara do país é a de aproveitar o facto de no PSD ainda se estar à espera de Pedro Santana Lopes. Como Santana deverá esticar até ao limite o momento de decidir se avança ou não – até para perceber as reais hipóteses que terá e se valerá a pena sair da Santa Casa -, alguns centristas acreditam que o facto de Assunção avançar até ao final deste ano pode dar gás à ideia de a ter à frente de uma lista conjunta com o PSD.

No CDS argumenta-se com a popularidade da nova líder centrista – que tem ficado bem colocada nos barómetros que avaliam os líderes partidários -, com a sua imagem de fazedora e com uma ideia de proximidade que poderá explorar por oposição a Fernando Medina que os centristas acreditam que será mais frio no contacto com a população em campanha eleitoral.

Outro argumento apresentado pelos defensores de Cristas está em estudos de opinião que já começaram a ser feitos e que lhe dão bons resultados como candidata a Lisboa e na juventude que tem e que faz com que pareça mais próxima do lote de candidatos que se perfila à esquerda, todos com 40 anos ou menos. Fernando Medina está nessa faixa etária e nomes como o comunista João Ferreira ou o dos bloquistas Mariana Mortágua e Ricardo Robles são ainda mais novos. Num cenário destes, Santana Lopes ou Fernando Seara (atualmente vereador do PSD em Lisboa) aparecem como muito mais velhos. «Santana já tem estatuto de senador. Fica até um pouco estranho um debate entre um leque de candidatos tão jovem e alguém que não só está perto dos 60 como já foi primeiro-ministro», defende uma fonte do CDS. 

Santana ainda é o Plano A  do PSD para Lisboa Estas contas podem, porém, sair furadas, porque continua a haver grande resistência na concelhia social-democrata de Lisboa a um acordo pré-eleitoral com o CDS. A decisão caberá sempre a Pedro Passos Coelho, mas fontes sociais-democratas asseguram ao SOL que o líder para já continua mais inclinado em esperar por Santana Lopes e com muito pouca vontade de ver o partido ficar no segundo lugar de uma lista liderada por Assunção Cristas.

«Pôr Cristas como número um de uma coligação para Lisboa era dar ao CDS um salto de crescimento que não faz sentido nenhum», defende um dirigente do PSD, assegurando que no que toca à autarquia lisboeta, o mote no partido continua a ser o keep cool que Pedro Santana Lopes lançou no Congresso de Espinho.

Por outras palavras, «Santana continua a ser o nosso Plano A para Lisboa». Ninguém no PSD levou muito a sério o facto de o provedor da Santa Casa da Misericórdia se ter posto, aparentemente, de fora da corrida a Lisboa há duas semanas em declarações ao Expresso.

«Neste tempo, não posso aceitar convites para ser candidato a outros cargos», dizia na altura Santana Lopes, explicando entender que o seu partido «tenha outros calendários» e afirmando não querer condicionar esses tempos com as «reflexões profundas» que seriam necessárias para decidir perante um convite desses.

Na São Caetano à Lapa isto foi lido como uma forma de Santana dizer ao partido que se o quiser terá de esperar. E, pelo menos para já, o PSD parece disposto a esperar antes de avançar para um Plano B. 

Moreira da Silva ou Maria Luís Albuquerque? O problema parece estar precisamente em acertar um Plano B que agrade à direção e à concelhia de Lisboa. 

O SOL sabe que Pedro Passos Coelho continua a ver no seu vice-presidente Jorge Moreira da Silva uma boa hipótese para a Câmara de Lisboa. Mas na concelhia esse é um nome que não agrada.

Uma alternativa poderia ser Maria Luís Albuquerque. A também vice-presidente de Passos Coelho não será o nome preferido da concelhia lisboeta, mas também não deverá ter grandes resistências a nível local e é até vista por alguns sociais-democratas como uma boa hipótese.

Com Santana Lopes ainda longe de definir se será ou não candidato a umas eleições que só acontecerão em outubro de 2017, todos os cenários continuam em cima da mesa, apesar de o líder da concelhia Mauro Xavier ter defendido já em entrevista ao i que gostaria de ter o dossiê encerrado pelo menos um ano antes das autárquicas.

Tanta indefinição faz com que nem sequer esteja excluída a hipótese de Fernando Seara voltar a ser candidato. A sua candidatura seria, contudo, já um Plano C e quase a assunção por parte do PSD de que não estaria verdadeiramente a jogar para ganhar Lisboa. Apesar disso, há quem defenda que se Santana mantiver o partido à espera até abril ou maio, Seara será a única solução.

Nesse caso, argumenta-se no PSD, tudo ficará dependente de um mau resultado da esquerda. Se o PSD conseguir manter os sete vereadores na Câmara, mas o BE eleger dois e deixar o PS com apenas sete também, será presidente da Câmara aquele que for o cabeça de lista do partido mais votado. «Nas autarquias não há geringonça possível», lembra um social-democrata, explicando que nesse cenário a coligação com os centristas também não será a solução ideal. «Quando Santana foi com o CDS perdeu. Ganhou quando correu contra Portas em 2001 e esse foi o melhor resultado dos últimos anos do CDS, que ainda assim só elegeu um vereador».