Referendo anti Maduro avança… devagarinho

Mês e meio depois, CNE valida recolha de assinaturas de 1% do eleitorado

São uma das últimas esperanças de um regime que viu a mais grave crise da história venezuelana roubar-lhe o apoio popular acumulado pelo falecido líder Hugo Chávez. Mas não conseguem fazer milagres: na segunda-feira, cerca de mês e meio depois de terem recebido 1,95 milhões de assinaturas a pedir a convocação de um referendo que possa antecipar o fim do mandato do presidente Nicolás Maduro, os membros da Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela confirmaram que estas cumprem o requisito de representar 1% dos eleitores em cada um dos 24 estados do país.

“Vamos pelos 20%, Venezuela”, apelou no Twitter o presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, eleito para o cargo por pertencer à aliança de oposições (MUD) que em dezembro alcançou uma surpreendente maioria de dois terços nas legislativas. Referia-se à próxima etapa: depois de 1%, a vontade de votar a continuidade do governo deve agora ser expressa por um quinto do eleitorado. À frente, Allup escrevia: “não temos medo, Tibisay Lucena”, numa referência à presidente do CNE que volta a mostrar que a oposição olha para esta instituição como uma extensão do governo de Maduro.

E do outro lado também não há muita preocupação em provar o contrário. Além de ter retardado ao máximo o fim da primeira etapa, o anúncio de Lucena não incluiu prazos para o passo seguinte. Henrique Caprilles, governador de Miranda que é um dos rostos mais populares da oposição, apelou à mobilização já na “quarta e quinta-feira” para se dar início à recolha de assinaturas. Vicente Bello, representante da MUD junto do CNE, diz que, no máximo, a recolha deve ser feita no segundo fim de semana de setembro. E quer que o CNE disponibilize nessa data as 14500 mesas eleitoras que se usam nas eleições nacionais.

A pressa justifica-se: para afastar Maduro, a MUD terá de vencer esse referendo com um mínimo de 7 587 580 votos – que representam mais um voto do que o número alcançado por Maduro nas presidenciais de 2013. E a MUD somou 7 728 025 nas legislativas de dezembro. Mas se o referendo se realizar depois de 10 de janeiro, mesmo que Maduro perca será sucedido pelo seu vice-presidente, uma vez que já está na segunda metade do mandato. Até lá, a vitória da oposição antecipará imediatamente as eleições.