O calor potencia a mudança de hábitos, e as férias também. Tudo isto, aliado, faz com que os restaurantes voltem a encher, tal como acontecia em anos anteriores, e que haja mais consumo de determinados alimentos e bebidas. Esta tendência não se aplica apenas nos meses de verão, mas é nesta altura que ganha um novo fôlego.
De acordo com os últimos dados do Eurostat, o consumo dos portugueses em restaurantes, cafés e similares já ultrapassa 9,5% do orçamento familiar: um valor que duplica a média europeia, que apenas chega aos 3,9% do orçamento de gastos entre as famílias.
No verão, a propensão dos portugueses para estes gastos aumenta. Nesta altura do ano, os portugueses ficam mais entusiasmados para conhecerem restaurantes novos, ou simplesmente para visitarem os locais já considerados habituais. E como este verão tem sido marcado por noites quentes, as esplanadas têm vindo a conquistar mais adeptos.
E este ano há um impulso extra: a descida parcial do IVA na restauração desde 1 de julho. O imposto baixou para os 13% nos serviços de refeições, cafetaria e água e, embora as bebidas alcoólicas, os refrigerantes, os sumos e néctares e as águas com gás fiquem de fora, ainda sujeitos à taxa de 23%, o setor poderá ganhar algum alento. Só para o próximo ano é que poderemos esperar uma redução do IVA em todos os serviços de restauração, de acordo com as últimas declarações feitas por António Costa.
Calor pede cerveja
A produção e distribuição de cerveja é uma das indústrias que mais sentem o impacto das condições meteorológicas. Perde com o mau tempo, mas ganha com o calor. Exemplo disso foi a queda de consumo desta bebida nos últimos dois anos. A culpa não foi do sentimento económico, mas da meteorologia. O clima castigou a indústria com meses de julho e agosto de pouco calor nos últimos dois anos, ao contrário do que tem acontecido nestes meses de verão.
Por isso mesmo, tudo indica que, este ano, o consumo per capita de cerveja em Portugal vá ser superior ao que foi registado em 2015, quando se fixou nos 46 litros. Os pedidos, por vezes, demoram a chegar e há quem não tenha mãos a medir. O i sabe que há distribuidores que não estão a conseguir entregar cerveja Sagres em alguns restaurantes de Lisboa, por falta de stock. “A prolongada canícula que temos vindo a sentir, sem paralelo nos últimos anos, leva certamente a um pico de consumo que poderá, em algumas situações pontuais, originar constrangimento de distribuição de produto”, admite a Central de Cervejas.
As cervejeiras contactadas pelo i admitem que os quatro meses de verão, de junho a setembro, representam cerca de 60% das vendas anuais de cerveja. E apontam as condições climatéricas, o calor e pouco vento, como a fórmula de sucesso para uma boa época de vendas.
A Unicer, dona da Super Bock, diz mesmo que esta é uma época particularmente importante para o consumo de bebidas refrescantes, sobretudo cervejas, numa conjugação de vários fatores: “Desde logo, uma maior predisposição das pessoas para saírem de casa e conviverem com a família e amigos, com um impulso importante para um canal de vendas – o Horeca – muito relevante na atividade da empresa. É também durante estes meses que os portugueses continuam a marcar as suas férias.”
O crescimento deste mercado não fica por aqui. A dona da Super Bock lembra também que Portugal beneficia de um fluxo turístico muito positivo, com a passagem de muitos estrangeiros por Portugal, atingindo o pico neste período de verão. Há também uma maior concentração de eventos, alguns de grande dimensão, como os festivais de música e as festividades regionais, onde a marca tem uma presença predominante.
Mais água e gelados
A água engarrafada fresca e os gelados são outros produtos preferidos pelos portugueses quando as temperaturas sobem. Verão não é verão sem a compra de uma bola-de-berlim na praia. Com ou sem creme, os preços variam entre 1,2 e 1,5 euros.
Também para as panificadoras, o negócio é bastante mais lucrativo nesta época. No Algarve, a procura verificada nas panificadoras é muito superior – e maior ainda a margem que os vendedores conseguem obter. Os pedidos chegam normalmente às duas centenas, por um preço de 0,35 euros por bola. Feitas as contas, as bolas vendidas na praia chegam a dar um retorno de mais de 300% para os vendedores. E ninguém tem dúvidas: este negócio das praias veio substituir, em grande parte, a venda de gelados, que predominava no areal português há 15 ou 20 anos.