No site peticaopublica.com, um serviço gratuito de petições online, as petições são como os chapéus. Há muitas. Há para todos os gostos – alguns duvidosos – e todas as causas. Por exemplo, uma das últimas petições, criada ontem durante a tarde, pedia para “TAYLOR SWIFT VIR A PORTUGAL” – escrito assim mesmo, com as maiúsculas a gritar.
Pelo meio dos faits divers, há textos sustentados e causas que, a julgar pelo número de assinaturas, movem mesmo muita gente e cuja análise traz resultados curiosos: entre as dez petições mais subscritas pelos portugueses, cinco estão ligadas à causa animal. Mas comecemos pelo início, uma vez que a força motriz que mais uniu os portugueses – ou seja, a petição mais votada – é referente a José Sócrates.
“Recusamos a presença de José Sócrates como comentador da RTP” chegou às 144 162 assinaturas (ver caixa). O pedido surgiu pouco tempo após ser anunciado que o antigo primeiro-ministro seria comentador político num programa semanal, com a duração de 25 minutos, emitido em horário nobre após o “Telejornal”. Estávamos em abril de 2013, quando José Sócrates iniciou as funções. A petição não se fez esperar e foi criada ainda antes de Sócrates se estrear no programa.
“Recusamos liminarmente o branqueamento das ações deste senhor através da TV dos atos de despesismo e gestão danosa”, lê-se no texto. Um ano depois, em março de 2014 chegou o desentendimento entre o comentador e o pivot, José Rodrigues dos Santos. Em direto, o jornalista confrontou José Sócrates com afirmações que o mesmo tinha feito em 2010 e 2011. Visivelmente irritado, o antigo primeiro ministro acabaria por responder: “Não vinha preparado para isto.” Duas semanas depois, Sócrates chegou ao estúdio com tudo. “Não basta papaguearmos tudo aquilo que nos dizem para fazer uma entrevista”, atirou o comentador. “Muito bem. Fica registado o seu insulto, ao qual não vou responder”, disse José Rodrigues dos Santos. Menos de meio ano depois deste filme, o antigo primeiro-ministro passaria a ter um novo papel: o de principal arguido da operação Marquês.
O deputado do CDS-PP José Ribeiro e Castro foi uma das figuras públicas a assinar a petição. O ex-primeiro-ministro devia antes “responder pela situação muito difícil em que o país está”, disse quando confrontado com a assinatura do documento.
Causa animal Para além de José Sócrates, o “animal feroz”, há outro motivo ainda maior de união entre os portugueses na hora mostrar o apoio a uma causa – os animais.
“Fazer justiça pela morte do Simba” aparece logo em segundo lugar. O documento refere-se ao caso de um cão, Simba, abatido a tiro no ano passado por um vizinho dos donos na aldeia de aldeia de Monsanto, em Idanha-a-Nova. A história levantou uma onda de solidariedade nas redes sociais e trouxe um final tão polémico quanto o início – o julgamento terminou em abril e o dono do cão, Diogo Castiço, acabou por ter uma pena mais pesada – relativa ao crime de injúria – do que o autor dos disparos. Em tribunal, ficou provado que Simba tinha mesmo sido abatido com dois tiros de caçadeira pelo arguido, que foi condenado a pagar um total de 5920 euros ao casal. Nas considerações finais, o juiz disse que não gostou do que foi lendo nas redes sociais e realçou que este caso não “deve ser usado como porta estandarte de coisa nenhuma”, explicou ao i na altura o advogado de Diogo Castiço, Rogério da Costa Pereira. O dinheiro da indemnização foi doado pelos donos “aos vários porta-estandarte que lutam por um mundo melhor”. Também em quinto e sexto lugar surgem textos favoráveis aos bichos. O primeiro pede uma nova lei de proteção dos animais em Portugal e o segundo apela à defesa de Zico, um cão que atacou uma criança em Beja em 2013. O menino, de 17 meses, morreu.
“Esta petição tem como objetivo lutar contra o abate do cão “Zico” que atacou uma criança em Beja e de todos os outros “Zicos” espalhados pelo país… Um cão que nunca fez mal durante 8 anos e atacou é porque teve algum motivo. O abate não é solução!”, começa o texto endereçado ao Canil de Beja e respetiva veterinária municipal. A discussão da eutanásia do animal tornou-se pública e arrastou-se por mais de oito meses. O cão acabou por ser rebatizado de Mandela e entregue a uma nova detentora legal, Rita Silva, presidente da Associação Animal, em 2014, contava a “Visão”. Ainda no reino animal há uma petição a exigir o “fim das touradas e de todos os espetáculos com touros”, que aparece em nono lugar. Já o décimo é ocupado por um texto que pede o fim das “exibições artísticas” da holandesa Katinka Simonse em que são mutilados e assassinados animais. “Solicito que me ajudem a chegar aos ouvidos do governo holandês e não só. Para isso é necessário assinar a petição e divulgar junto dos nossos contactos a fim de podermos ser ouvidos e chegarmos rapidamente a um desfecho”, escreve o criador da petição.
Deputados e GNR Nem só estes assuntos tocam os portugueses: o texto que pede a absolvição do militar da GNR Hugo Ernano – tema que tem estado novamente no centro das atenções – é a quarta petição com mais subscritores (101.835).
Em terceiro, os subscritores pedem a diminuição de deputados no Parlamento. Nos dez mais há ainda um pedido pelo fim do desperdício alimentar e outro relativo às reformas.
E há ainda milhares de petições de que poderíamos falar – por agora, deixamo-lo com este top. E com uma nota de rodapé: à hora de fecho, a petição da Taylor Swift contava um peticionário.